sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Riverlands [Capítulo 2 - Reescrita]

[Aviso: Alguns personagens tiveram os nomes alterados porque a tia Nathy é uma mula e excluiu o capítulo antigo ao invés de reverter pra rascunho. Felizmente, eu aprendo com os meus erros ~dependendo muito do assunto~]

Os filhotes passaram o resto do dia brincando. Quando o sol começou a se pôr, todos os leões já estavam a caminho da caverna. Nadia, junto de seus netos eram os únicos que ficaram para trás. 

A mais velha caminhou até uma pedra e se deitou, já os filhotes, se deitaram no chão, prontos para ouvir a continuação da história.

- Bem, onde eu parei? - indaga a mais velha, arqueando a sobrancelha.

- Liko ficou devastada. - diz Woola, se aconchegando ao lado da irmã. - Depois disso, a senhora parou de contar a história.

- Ah, sim. - Nadia confirma com a cabeça. - Bem, vejamos... - a mais velha pensa um pouco. - Liko, a parceira de Duco, cega pelo seu ódio, declarou guerra contra Kivo e Nawara e jurou que se vingaria. Pegando sua filha, a pequena Loary, Liko se dirigiu para o exílio do reino. Ela era seguida por sua mãe, suas três irmãs mais novas e pelo resto dos seguidores de Duco.

- E o que aconteceu depois, vovó? - questiona Shia. 

- Bem, Liko começou a treinar Loary para que a mesma fosse uma assassina cruel. - explicou - Depois que as outras leoas do reino tiveram filhotes, as coisas se acalmaram um pouco. Ninguém do reino se lembrava da ameaça de Liko, até que uma leoa apareceu no reino, sendo guiada pela matriarca das hienas, perguntando sobre Duco. 

- Quem era essa leoa? - Kamii sobe na pedra em que Nadia estava e se deita nas costas da mais velha, que apenas sorri e lambe a testa da neta.

- Kifalme, a princesa perdida. - Nadia explica, ainda sorrindo. - Ela era irmã caçula de Duco e tinha sido sequestrada quando ainda era filhote. 

- A velha Kiki é uma princesa? - Kamii inclina a cabeça. - Então, não era pra ela ter assumido o trono?

- Bem, sim e não. - A mais velha começa. - Kifalme é, sim, uma princesa de sangue real, mas não quis lutar contra meus pais pelo trono. Ela aceitou o reinado dos dois e abdicou do trono para que o reino permanecesse unido. - Assim que ouviram a explicação, os filhotes confirmam com a cabeça.

- Mas o que aconteceu depois disso? - pergunta Kuro, se aproximando mais da pedra. 

Nadia pensa um pouco.

- Com o reaparecimento de Kifalme e o nascimento dos filhotes, o reino estava em festa. Liko, tendo ouvido sobre a cunhada, visitou o reino para saber mais sobre ela e descobriu sobre os filhotes. - Nadia solta um leve bocejo e olha para o céu, notando que as estrelas já estavam aparecendo mais. - Foi aí que o treino de Loary se intensificou. Liko estava tão focada em sua vingança que tinha esquecido que a filha ainda era filhote e que gostava de brincar. Sempre que podia, Loary se aventurava no reino e, em uma dessas aventuras, acabou conhecendo a mim e aos meus irmãos. 

Os filhotes erguem os ouvidos. 

- A senhora já teve irmãos?! - indagam os pequenos curiosos, fazendo a mais velha rir.

- Dois irmãos mais velhos. - comenta. - Estra e Hisani. - Nadia sorri com a memória, mas o sorriso logo se transforma em uma carranca. - Infelizmente, nossa diversão com Loary não durou muito. Liko descobriu sobre as visitas da filha e eu não a vi mais.

- Puxa, vovó, que triste. - comenta Woola, subindo na pedra e esfregando a bochecha no rosto da avó.

- Liko era tão malvada. - comentou Shiro, se aproximando de Kuro e deitando-se nas costas do filhote.

- Eu não a culpo. - responde Nadia. - Pelo que meus pais me disseram, Liko era apaixonada por Duco desde que se conheceram quando eram filhotes. Quando ela descobriu que ele tinha sentimentos pela minha mãe, ela não aguentou e se manteve afastada de todos no reino, inclusive de Duco. - Nadia baixou as orelhas levemente e os filhotes ficaram em silêncio, ouvindo os grilos e as corujas à distância. - Mas quando Duco começou a cortejá-la, os sentimentos que ela tinha por ele explodiram e a cegaram além da crença. Os dois acabaram se casando alguns meses depois do casamento dos meus pais e foi nessa época que começaram a tramar contra nós. Seus planos foram interrompidos quando Liko descobriu estar grávida.

- O que aconteceu com a tivó Estra e com o tivô Hasani, vovó? - Shia indaga, deitando ao lado de Kuro e Shiro, que se aninhavam para manterem-se aquecidos. 

- Shia, tenha modos! - exclamou Kuro. - Deve ser um assunto delicado pra vovó, não é certo pressioná-la.

- Ora, está tudo bem. - respondeu a mais velha, acalmando os filhotes. - Vocês pediram minha história, é justo que eu conte tudo. Liko atacou Hasani quando ele estava no início da adolescência. Hasani tinha discutido com nosso pai naquele dia e ele foi se aventurar para esfriar a cabeça. - Nadia vira o rosto para o céu. - Aquele cabeça de vento sequer tinha percebido que estava no exílio, ele só percebeu quando trombou com Liko.

- E-e o que aconteceu depois? - pergunta Kamii, descendo das costas da avó e se deitando do lado de Woola, que deitara entre as patas dianteiras da mais velha.

- Meus pais ouviram os gritos e tentaram salvá-lo, mas chegaram tarde. - ainda olhando para o céu estrelado, Nadia suspira. - Liko disse que o matou pois ele tinha ameaçado o filhote de outra leoa, mas sabíamos que não era verdade. Por todos os defeitos que tinha, Hasani nunca ameaçava ninguém, então meus pais foram obrigados a deixar passar. 

- E a tivó Estra? - perguntou Kamii, se inclinando para mais perto de Woola. - O que aconteceu?

- Estra morreu quando fomos para nossa primeira caçada. - Nadia volta a atenção para os filhotes. - Liko tinha instruído Loary a assustar o bando de gazelas que íamos caçar, mas Loary se recusou e fugiu para contar para os meus pais. Estávamos tão distraídas com a caçada que não percebemos que Liko assustou um bando de búfalos, que estava vindo na nossa direção. Eu consegui me salvar subindo em um amontoado de pedras, mas Estra não teve tanta sorte e acabou sendo carregada pela debandada de búfalos. - a mais velha segurava as lágrimas, mas sua voz falhava. - Acabamos encontrando o corpo dela depois de horas de busca.

Os filhotes ficam quietos. Não podiam se lembrar de uma única vez que a avó tinha estado tão triste, até que ela abre um sorriso leve para tranquilizá-los.

- Depois dos eventos da minha infância e adolescência, meus pais ficaram mais cautelosos comigo. - comenta, dando uma leve risada. - Se eu fosse caçar, teria sempre uma escolta e eu nunca saía sozinha da caverna. Descobrimos depois que a Liko acabou sendo morta por um grupo de nômades. Alguns desses nômades acabaram ficando no exílio e a Loary se casou com um deles. Eu acabei conhecendo o avô de vocês depois da minha coroação. - Nadia lambe a testa de Woola e Kamii. - Ele acabou falecendo depois do nascimento do pai de vocês, meninas, devido a uma complicação no coração dele. 

- Vovó, que história triste. - murmura Shia. 

- Sim, peço desculpas se meu pedido lhe desencadeou algum gatilho, vovó. - comenta Woola. - Não era minha intenção.

- Ora, tolinha. - Nadia ri levemente e se levanta. - Não foi culpa sua. O passado está morto, devemos nos focar somente no futuro agora.

- Vovó está certa. - comentou Kamii, se levantando e se espreguiçando. - Devemos focar no futuro, pra que possamos ser melhores e esquecer as desavenças que tivemos no passado.

Nadia dá risada. 

- Kamii está certa, pequenos. Aprendi a perdoar o que me fez mal no passado e a seguir em frente de cabeça erguida, não importa a circunstância. - comentou a mais velha, descendo da pedra e se espreguiçando também. - Agora vamos, está ficando tarde.

Os cinco filhotes e a leoa começam o trajeto para a caverna.

- Boa noite, Zura. - diz Nadia, passando pelo leão dourado de juba vermelho escuro que guardava a entrada da caverna.

- Uma boa noite para você também, majestade. - responde ele, fazendo a leoa sorrir. Nadia adentra a caverna e se dirige até o fundo, observando os filhotes, que se aproximavam de suas mães para tomarem banho. Assim que se deita, Nadia boceja. Não demora muito pra que a rainha acabe caindo no sono.

[...]

Era bem cedo quando Loary acordou. Tão cedo que o sol mal tinha saído. A leoa adquiriu esse costume quando ainda era filhote, graças aos treinamentos que recebia da mãe. Levantando e se espreguiçando, Loary lambe a bochecha do marido, Daren, para acordá-lo e sai da toca, se dirigindo ao pequeno lago que havia no exílio.

Loary move as orelhas para trás ao ouvir passos se aproximando e sorri levemente; conhecia os passos em qualquer lugar.

- Seus ruídos no modo furtivo ainda estão desleixados, Lena. - disse simplesmente, ouvindo um "Ah, mamãe!" em resposta, que faz a leoa rir. - Vai aprender a controlar seus ruídos, meu bem. - A filhote, Lena, se aproxima de Loary e se senta ao lado da maior. 

Loary sorri e lambe a testa da filha, que apenas faz bico.

- Não é justo, mamãe. - resmungou a pequena, olhando para baixo. - Podia fingir que não ouviu.

Loary solta uma leve risada.

- Vai me pegar desprevenida um dia, meu anjo. - comentou, acariciando a cabeça de Lena com a pata. - Prometo que vai. Como dormiu?

- Moki me chutou algumas vezes... - responde Lena, abrindo um sorriso. - Fora isso, dormi muito bem, obrigada por perguntar. - Lena faz uma breve pausa. - E quanto a senhora, como dormiu?

- Dormi bem, meu amor. - Loary sorri e olha para o céu. O sol começava a nascer e os pássaros e herbívoros começavam a despertar, assim como os outros exilados, que saíam da toca. - Que tal você e Moki terem alguns dias sem treinamento? 

- Podemos mesmo? - a filhote pergunta animada. 

- É claro. - respondeu a mais velha. - Contanto que tomem cuidado ao sair para explorar e voltem pra cá antes do anoitecer, está tudo bem comigo.

- Voltaremos antes do anoitecer, prometo! - Lena abraça a pata da mãe e corre para encontrar com Moki, quase trombando com o pai no processo, que a segura pela cauda antes que ela possa ir mais longe.

- E onde a senhorita pensa que vai? - indagou Daren, dando uma leve risada com a filha, que mesmo presa, não parava de correr. 

- Vou buscar a Moki, papai. - explicou a filhote, finalmente percebendo estar presa e parando de correr. - Vamos explorar, mamãe nos deu alguns dias de folga.

Daren olha na direção que Loary estava. A leoa tinha voltado a beber água e ignorava a comoção.

- Vai sair sem tomar café da manhã? - perguntou Daren, soltando a cauda de Lena e rindo levemente ao ver a filhote estufando as bochechas. 

- N-Não é como se fôssemos explorar agora, já... - resmungou Lena, virando o rosto para longe do pai. - Eu só ia dar a notícia pra ela.

Daren solta um risinho.

- Vá descansar mais um pouco, Lena. - diz ele, num tom calmo. - O sol mal saiu direito, você vai ter tempo até sua mãe e as outras voltarem com a caça.

Lena suspira e combina com a cabeça, então abraça a pata do pai e corre na direção da toca. Daren, por outro lado, vira na direção da esposa, que tinha parado de beber água e assistia a troca de palavras dos dois. Ao notar Daren a encarando, Loary se aproxima e lambe a bochecha do leão.

- Alguns dias de folga, hein? - questiona ele, fazendo Loary rir.

- Ora, bom dia pra você também. - respondeu a leoa. Dessa vez, Daren quem riu.

- Desculpe. Bom dia, adorável dama. - respondeu ele, sorrindo. - Dormiu bem?

- Dormi sim, querido. - respondeu ela. - Presumo que também tenha dormido bem.

- Sonhei com você. - ele se senta e lambe a bochecha da parceira. - Minha noite de sono não poderia ser melhor.

Loary solta um risinho tímido.

- Sobre os "dias de folga"... - começou a leoa. - As meninas precisam de uma folga de vez em quando. Principalmente nessa idade, elas tem que ser filhotes um pouco.

- Alguns dias de folga pra elas não é tão ruim. - diz ele. - Elas precisam descansar um pouco e nós também. 

- Você descansa mais um pouco. - responde Loary, lambendo a bochecha de Daren e se afastando dele. - Eu vou caçar alguma coisa pra comermos.

Ele simplesmente solta uma breve risada e volta para a toca.

[...]

Era por volta de meio dia. O sol brilhava alto no céu e os pássaros cantavam. Nadia já tinha feito a caça do dia e agora observava os filhotes brincando. Woola era a única que não brincava, preferindo ficar ao lado da avó enquanto ouvia os sons ao seu redor. Woola, embora cega, não se deixava abalar. Treinava todos os dias com Waganga para melhorar sua audição e olfato.

A filhote ergueu os ouvidos e farejou. Sentia o cheiro de terra seca misturado com lama se aproximando à distância.

- Tem alguém se aproximando daqui. - murmurou a filhote, ganhando a atenção da avó. - Perto da fronteira do exílio.

- Fronteira do exílio? - questiona a mais velha. - Tem certeza, meu anjo?

Woola solta um "Uh-huh".

- Não são adultos. - comentou a pequena. - Talvez adolescentes ou filhotes. 

Nadia se levanta.

- Vou ver do que se trata. - comenta a mais velha. - Quer vir comigo ou prefere ficar aqui?

- Vou ficar, vovó. - responde Woola. - Lúthiel logo virá pra me levar pra treinar com a Waganga.

- Neste caso, até mais tarde. - Nadia lambe a testa de Woola, que ri levemente, e se retira.

Nadia não demora muito para encontrar quem se aproximava e, para a surpresa da rainha, ela acabou encontrando duas filhotes, que corriam distraidamente na direção dela.

A que corria na frente, a maiorzinha, era marrom claro. Sua barriga e patas eram marrom mais claro, praticamente da cor creme e seus olhos eram azuis claros. Nadia teve uma vaga lembrança de uma certa leoa de sua infância, mas balançou a cabeça para esquecer da memória. A outra filhote era creme. Sua barriga e patas eram um tom mais claro que o resto do corpo. Seus olhos também eram azuis, porém um tom mais escuro que o da primeira filhote, talvez azul céu. As duas duas filhotes riam enquanto corriam, mal prestando atenção no que estava à frente dela.

- Moki, vamos! - exclamou a marrom, que tinha uma voz doce. - Estamos quase lá, teremos o reino todo pra explorar!

- Não sou tão rápida quanto você, Lena! - respondeu a outra filhote, enquanto ria. - Espere!

As duas só pararam de rir quando Lena trombou contra a pata de Nadia. Lena acabou caindo e olhou para cima lentamente, com as orelhas para trás e uma expressão de puro medo.

- M-me... Me desculpa. - murmurou a filhote. - E-eu não queria...

- Está tudo bem, pequena? - Nadia a cortou, inclinando a cabeça e arqueando a sobrancelha. - Espero que não tenha se machucado.

- N-não. - murmurou a filhote, se levantando ainda com as orelhas pra trás e recuando aos poucos. - M-me desculpa, eu não queria trombar na sua pata.

Nadia ri levemente. 

- Não tem problema, querida. - a leoa mais velha se senta e observa as duas filhotes. - Meu nome é Nadia e presumo que vocês estejam bem longe de casa, não estão?

As filhotes confirmam com a cabeça. Ainda estavam um pouco aflitas, afinal, Loary já tinha falado para as duas sobre a leoa com uma marca de escaravelho na pata esquerda. 

- M-meu nome é Lena. - responde a filhote marrom, baixando a cabeça e fazendo uma breve reverência. - E essa é minha amiga Moki. É um prazer, majestade.

Moki também se curva.

- Prazer, majestade. - respondeu Moki.

- Ora, não há necessidade de tanta formalidade. - Nadia ri. - E o prazer é todo meu. Onde estão seus pais, pequenas? Certamente devem estar preocupados com vocês.

- Na verdade, majestade, mamãe nos deixou ter alguns dias sem treinamento. - respondeu Lena, erguendo a cabeça e abrindo um leve sorriso. - Então viemos explorar o reino, espero que não se importe.

- Claro que não me importo, pequenas. Podem ficar a vontade. - Nadia responde, calmamente enquanto expressava um leve sorriso. - Posso apresentá-las a outros filhotes, se quiserem.

As duas filhotes abrem sorrisos.

- Adoraríamos! - as duas exclamam, felizes por não estarem em encrenca. Nadia sorri uma última vez e guia as duas filhotes para onde os outros catorze filhotes estavam. A única filhote que faltava era Woola, que já tinha sido levada para o treinamento com Waganga.

Assim que os filhotes viram Lena e Moki acompanhadas por Nadia, eles se aproximaram, enchendo tanto Nadia quanto as filhotes de perguntas. Lena e Moki respondem as perguntas da melhor maneira possível e Nadia apenas se senta, deixando que os filhotes conversem entre si e se conheçam.

Mais atrás dos filhotes, Nadia vê o grupo de Luna. A única que estava faltando lá era a líder adolescente. Os outros estavam conversando ou dormindo, no caso de Usingizi e Ndoto. 

[...]

Woola voltava do treinamento com Waganga. A filhote era seguida por Lúthiel, que apenas observava os arredores, tomando cuidado com os possíveis ataques de outros predadores.

- Tia Lúthi? - indaga a filhote, parando brevemente e esperando a madrinha se aproximar. 

- Hum? - a leoa respondeu simplesmente. 

- Desculpe, é que você está mais quieta que o normal. - respondeu a filhote. - Está tudo bem?

Lúthiel sorri levemente.

- Nada que deva se preocupar. - respondeu simplesmente.

- Tem a ver com o Usiku? - Woola indaga curiosa, virando o rosto na direção de Lúthiel, que solta um suspiro.

- Nada passa despercebido por você, não é? - Lúthiel ri levemente. - Mas sim, tem a ver com o Usiku. Estou preocupada com ele.

- O que aconteceu? - Woola arqueia a sobrancelha. 

- Trauma, basicamente. - respondeu a mais velha. - Ele está ficando cada vez mais distante por causa disso. Mais... antisocial, eu diria. Não posso culpá-lo.

Woola pensa um pouco. Tinha notado o quão antisocial e irritadiço Usiko se tornara, mas imaginou que fosse porque o amigo estivesse passando por algo difícil.

- O dia do aniversário da morte da mãe dele está chegando. - comentou Lúthiel, soltando um suspiro. 

Woola inclina a cabeça. 

- Traumas podem ser difíceis de superar. - responde a filhote. - Principalmente quando envolvem alguém próximo. Talvez ele se sinta culpado, de alguma forma, tia Lúthi. Q-quer dizer, ele era bem próximo da mãe, não era?

- E como. Onde Ello ia, Usiku ia atrás. - Lúthiel ri. - Ele era como uma sombra pra ela.

- Talvez... talvez você devesse conversar ou passar mais tempo com ele. - a filhote comenta, sorrindo levemente. - Você não quer substituir a mãe dele, tia Lúthi, mas talvez ele pense que sim.

Lúthiel abraça Woola com a pata.

- Você é uma mini gênio, sabia? - Woola ri e Lúthiel lambe a testa da princesa, logo a soltando e olhando para o céu e começando a caminhar. - Vamos andando. O sol está começando a baixar.

- Você pode ir na frente, tia Lúthi. - diz a filhote. - Vou ficar por aqui, logo volto para casa.

- Tem certeza? - a mais velha pergunta. - Estamos na metade do caminho.

- Tenho certeza sim, tia Lúthi. - Woola sorri. - Não vai ser um problema para mim. Posso farejar o caminho de volta.

Lúthiel suspira. Sabia que nada faria a princesa mudar de ideia, então Lúthiel apenas lambeu a testa da filhote novamente e continuou seu caminho na direção da caverna. Woola, por outro lado, começou a farejar. Estava sentindo o cheiro de sangue desde que saiu da árvore de Waganga e queria saber se era algum animal ferido ou uma carcaça, então ela seguiu o cheiro.

[...]

Luna estava no lago que cercava Riverlands se refrescando. Ela tinha visto Lúthiel voltando para a caverna à distância, mas Woola não estava com ela e Lúthiel parecia estar com pressa. Arqueando a sobrancelha, Luna farejou o ar. Podia sentir o cheiro da princesa vindo da direção que Lúthiel veio.

Dando de ombros e sem ter mais o que fazer pelo resto do dia, Luna seguiu o cheiro da filhote, até que ouviu a voz da pequena falando com alguém. 

- Muito prazer, senhor Binter. - diz a pequena, dando uma leve risada. - Meu nome é Woola. Pode me dizer o que aconteceu?

- Estava caçando. Alguns leões vieram e tiraram proveito. - comentou "Binter", fazendo uma pausa ao notar a leoa negra se aproximando. - R-resolvi revidar e levei a pior.

- I-isso é horrível. - comenta Woola, baixando as orelhas. - Você está deitado, não está? Pode ficar de pé?

Luna vê o serval fazendo esforço para se levantar, mas logo caindo. Abaixo dele estava uma pequena poça de sangue levemente seca. 

- N-não, não consigo. - resmungou ele, grunhindo de dor.

- Então é daqui que vinha o cheiro de sangre. - comenta a leoa, fazendo a filhote se virar rapidamente. Os pelos das costas da pequena estavam eriçados e ela estava na defensiva. Ao notar de quem era o cheiro, Woola se acalma.

- Senhorita Luna! - exclama a pequena, sorrindo de orelha a orelha. - Me perdoe, achei que fosse algum forasteiro.

- Teoricamente, soy una extraña. - comenta Luna. - Que haces aqui sin compañia? Tu abuela debe estar preocupada y tu madrina también.

- E-eu não entendi quase nada do que ela está dizendo, mas ela tem razão. - diz Binter, se encolhendo quando Luna vira seu olhar para ele. - Q-quero dizer, você não devia estar sozinha por aqui.

Luna revira os olhos.

"Foi isso que eu tinha dito, cabrón."

- Binter, não é? - questionou Luna, se aproximando do serval, que se encolheu levemente. - Já ouviu a princesa, mi nombre es Luna.

Binter pisca confuso.

- E-ela é a Luna. - diz Woola, sentindo a tensão entre os dois. - F-faz parte do grupo de nômades que eu disse antes.

- A-ah, sim. - os três ficam em silêncio por um tempo.

- Devia... devia cuidar de seus ferimentos. - comentou Luna, observando Binter. - Podem acabar infectadas ou chamar atención no deseada.

- Waganga pode ajudar. - diz Woola. - Mas a toca dela é um bocado longe.

Puedo llevarlo. - responde Luna. - Posso ser uma adolescente, pero ya puedo llevar un cadáver de búfalo. Carregá-lo não será tão difícil.

- Tem certeza disso, senhorita Luna? - Woola vira o rosto na direção da leoa negra. - Você deve estar cansada de sua viagem até aqui, deveria descansar.

Luna solta um breve riso, que fez Woola erguer os ouvidos. Nunca imaginou ouvir a leoa rir.

- Niña tonta. Ainda tengo un trabajo a cumprir, não posso descansar. - respondeu Luna, se aproximando de Binter, o pegando pelo couro do pescoço com cuidado e o colocando em suas costas. - Confortável? 

- N-na medida do possível. - responde Binter, grunhindo com a dor.

- Gostaria de liderar o caminho, princesa? - indaga Luna, olhando para a filhote, que sorri e caminha na frente da leoa.

- E-então... de onde você é? - pergunta Binter, tentando puxar assunto.

[...]

Luna voltava para o reino acompanhada de Woola. As duas tinham deixado Binter na toca de Waganga para que ele fosse cuidado e tratado pela curandeira. Waganga tinha mandado um avestruz recém-recuperado para avisar o rei e a rainha que Binter estava sob seus cuidados.

Nadia, sendo a avó preocupada que era, foi direto para a toca da curandeira, esquecendo-se brevemente que estava acompanhada por outra leoa, e encontrou as duas leoas no meio do caminho.

- O que estava pensando?! - Nadia exclamou, observando as orelhas de Woola abaixarem. - Graças aos Reis que Luna estava por perto! E se fosse uma armadilha?!

- M-me desculpe, vovó. - murmurou a filhote. - E-eu só... Não podia deixar ele ferido aqui, ainda mais na temporada de humanos.

- E você achou que uma filhote de leão poderia defender um serval adulto dos humanos?! - Nadia bufa, circulando a filhote, que queria se enterrar em um buraco. - O que estava pensando, Woola? É perigoso ficar aqui sozinha! E mandar sua madrinha embora também não ajuda!

- M-me desculpe, vovó. - murmurou a pequena, se encolhendo com o tom severo da avó. - E-eu ia buscar ajuda no reino, eu juro. Eu só não queria que ele desmaiasse.

Nadia suspira derrotada.

- Não faça isso de novo. Me deixou preocupada. - diz a mais velha, abraçando a filhote. - Luna, agradeço por você ter aparecido. Não sei o que faria se algo acontecesse com a Woola.

Estoy a su servicio, Majestad. - respondeu a adolescente, notando uma leoa de pelo marrom que se aproximava. 

Nadia, ao ouvir os passos da leoa, se vira e abre um sorriso nervoso.

- Ainda é difícil te acompanhar, Nadia. - comenta a leoa, rindo levemente. - Por sorte, não estávamos apostando corrida.

- Peço desculpas por isso, Loary. - responde a rainha, soltando Woola e suspirando.

- Você estava preocupada, é completamente compreensível. - Loary responde. - Presumo que essa seja a adorável Woola.

Woola vira o rosto na direção de Loary e sorri tímida.

- É um prazer, senhorita Loary. - comenta a filhote.

- O prazer é todo meu. - Loary solta uma risadinha e vira o rosto para Luna. - Você deve ser Luna, não é? Sua amiga, Ndoto, me pediu para avisá-la que vão começar as buscas ao pôr do sol.

- Gracias. Devo partir agora, majestade. - responde Luna, se virando para Nadia e fazendo uma breve reverência. - Tem algo que precise?

- Se não for ocupar muito do seu tempo, Luna... - começa Nadia. - Poderia levar Woola para a caverna? Terei que discutir o castigo dela com Nidijo e voltarei apenas mais tarde.

Woola exclama um "O QUE?!" e Luna pega a filhote cuidadosamente pelo couro do pescoço. Curvando-se uma última vez, a leoa de pelos negros começa a correr em direção a caverna, deixando Nadia e Loary para trás.

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OLÁ TERRÁQUEOS, SAUDAÇÕES )0)
Sua alienígena favorita está de volta. Turu bom com vocês? Espero que sim -w-

Antes que taquem alguma coisa em mim pela demora do capítulo, deixem eu explicar o motivo da minha ausência de dois meses.

Eu comprei Batman Arkham City pra jogar no PC e fiquei viciada para um caralho. Tanto que zerei no modo normal e estou zerando no fácil. Eu tava doida pra jogar ele, desde que vi as gameplays em 2013/2014. Depois de Batman, eu comprei Slime Rancher e MEL DEUS OS SLIMES SÃO MUITO FOFINHOS MANO. 

Meu aniversário foi dia 30/07, ou seja, dezenovei, porra! Esse capítulo era pra ser postado ou dia 23 ou dia 30, mas não saiu em nenhum dos dois, desculpem.

Minha mãe fez um churrasco de almoço com bolo pra comemorar dia primeiro. Eu chamei três amigos, os vizinhos do quintal onde eu moro, meu pai, minha madrasta, minha tia avó e minha tia. Ganhei dinheiro como presente e coloquei um piercing novo... na língua. Ainda tô me acostumando com ele e tô falando igual o Patolino, mas é temporário.

Além disso, eu também estive trabalhando em alguns OCs. Pra quem não sabe - acho que meio difícil de não saber, eu falo pra geral - eu sou fã de My Little Pony. Idiota? Sim, afinal, é um desenho infantil e eu sou uma jovem adulta de dezenove anos, mas eu gosto dos personagens. Eu tenho meu próprio universo alternativo de MLP e crio OCs novas de vez em quando, juntamente com histórias para elas.

Foi basicamente por isso que demorou pra sair :v
Espero que não fiquem muito putos comigo :3

Agora, sobre o capítulo:

Eu mudei a parte que a Nadia encontra a Woola, obviamente. Como a Luna tinha se ausentado, resolvi incluí-la no lugar da Nadia. Como eu tinha dito, Luna é boa rastreadora, por isso foi fácil ela identificar o cheiro de sangue do Binter.

Eu também esqueci de mencionar no post sobre os Caçadores que os humanos do Santuário geralmente escolhem leões da mesma subespécie pre serem libertados, nunca de espécies diferentes, pois alguns são mais agressivos - como é o caso da Luna.

Outra coisa que eu não mencionei sobre a Luna é que, enquanto estava no Santuário, Luna era "vizinha de cela" com uma família de tigres, uma mãe e cinco filhotes, um dos quais era branco. Luna estava acostumada com a presença dos tigres mas não com a presença de leões, por isso ela era mais agressiva com os outros membros do grupo. Acabou que uma das filhotes da tigre acabou saindo das patas da mãe no meio da noite e viu a Luna bebendo água na cela dela e começou a puxar assunto. 

Luna basicamente virou uma irmã mais velha de outros pais pra filhote e os humanos resolveram apresentar as duas mais formalmente. Se vocês acham que a Luna matou a filhote estão absolutamente errados. As duas se deram super bem, até os problemas de saúde da filhote começarem e elas serem afastadas. Depois disso, a Luna parou de ver a filhote.


Traduções:

Soy una extraña - Sou uma forasteira
Que haces aqui sin compañia? Tu abuela debe estar preocupada y tu madrina también - O que faz aqui, sem companhia nenhuma? Sua avó deve estar preocupada e sua madrinha também.
Cabrón - Idiota
Mi nombre es Luna - Meu nome é Luna
Atención no deseada - Atenção indesejada
Puedo llevarlo - Posso carregá-lo
Pero ya puedo llevar un cadáver de búfalo - Mas já consigo carregar uma carcaça de búfalo.
Niña tonta. - Garotinha tola
tengo un trabajo - Tenho um trabalho
Estoy a su servicio, Majestad - Ao seu dispor, majestade
Gracias - Obrigada

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Eu provavelmente vou reescrever o próximo capítulo de ALQFDH em breve, mas não tenho certeza. Também vou introduzir os outros personagens do grupo dos caçadores mais pra frente, então paciência u-u

Edit: Eu esqueci de falar que a Loary foi buscar a Moki e a Lena no reino. Foi assim que ela e a Nadia se reencontraram. Pensei até em escrever a interação delas, mas deu preguiça, se vocês quiserem, posso adicionar como um flashback.

Por hoje é só. Espero que tenham gostado. Um beijo da Nathy, fiquem com Kami e bye -3-