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sexta-feira, 20 de junho de 2025

Roar from Within: Contos de Anida [Cap. 8 – Artemísia Afra]

Os dias que se seguiram após a expulsão de Ananda e Dhalimu foram repletos de risos e conversas animadas, apesar da ligeira tensão perto de Endra e Hasi.

Os reis tinham tirado um tempo para socializar mais informalmente e se conhecerem melhor, em alguns casos.

Era claro para todos que Kiros e Obasi tinham uma certa inimizade, mas os dois mantinham conversas relativamente amistosas, principalmente quando suas esposas estavam por perto. 

Pelo que Habi havia descoberto, o filho de Kiros já era pai de duas adolescentes e uma filhote, que tinham ficado em casa junto com as outras leoas das Terras do Norte. 

Habi estranhou um príncipe que nem parecia ter amadurecido completamente ser pai, mas guardou as opiniões dela para si mesma.

Obasi, apesar de ser um rei conversador, deixava claro que era preguiçoso em suas ações. Eshe não parecia se importar muito com o comportamento do marido. A leoa sempre o encarava com carinho.

Os reis e rainhas se encontravam nas clareiras de Rivalon. As conversas eram animadas e inspiradoras e todos tiveram tempo para trocar histórias.

— Esperamos ver o Príncipe Malka em breve novamente, Eshe — Sarabi diz, sorrindo para a rainha das Terras do Sul. — Simba e os outros sentem falta dele.

— Visitaremos assim que possível, Sarabi — Eshe promete em resposta. — E quanto a você, Habi? Como estão as crianças?

— Ah, você sabe como Adanna e Hakuwa são — a rainha ri, gesticulando discretamente para as netas de Nadia, que brincavam com outros filhotes. — Sempre fazendo amizades onde quer que vão.


[...]


— Volte aqui, seu engomadinho! — Amadi grita, perseguindo Hakuwa pela relva alta da floresta. O rosto da filhote estava contorcido em uma expressão de raiva.

— Você mereceu dessa vez! — O filhote dourado grita em resposta, sem parar de correr.

Enquanto Hakuwa brincava com Akili e os outros, Amadi achou que seria divertido tentar assustar Akili saltando de um arbusto. O tiro saiu pela culatra quando Kisai a notou e chamou a atenção de Hakuwa, que se colocou na frente da filhote para impedi-la, fazendo Amadi dar de cara com o flanco dele e cair de costas no chão. 

Foi uma coisa simples, realmente. Amadi não tinha sofrido um arranhão sequer, mas se achou no direito de ficar com raiva da intervenção do príncipe e brigou com ele. 

Em resposta, Hakuwa esperou um momento oportuno e pisou com força na cauda de Amadi, que se pôs a persegui-lo pela floresta. 

Os outros filhotes tentaram acompanhar mas desistiram. Hakuwa era rápido, e a própria Amadi estava com dificuldade para acompanhá-lo.

Para Hakuwa, a perseguição não passava de uma mera brincadeira. Ele sabia que Amadi estava com raiva por estar com o ego e cauda feridos, mas não se importava.

Cada vez que Amadi parecia perto de alcança-lo, Hakuwa acelerava um pouco mais. A filhote de pelo claro estava se cansando e isso era óbvio. 

Com um sorriso vitorioso, Hakuwa usa a raíz curvada de uma árvore para fazer uma curva acentuada, usando as garras para derrapar no chão e continuar correndo.

Amadi tenta fazer o mesmo, mas tropeça em algo no caminho e perde o equilíbrio, caindo de cara no chão antes de rolar alguns metros. 

Hakuwa para de correr a tempo de ver a cena se desenrolar e, com um pequeno sorriso no rosto, se vira e corre na direção oposta, voltando para o clubinho da árvore. 

Quando Amadi para de rolar, solta um sibilo de dor e leva a pata à cabeca, notando o sangue escorrendo. Enquanto rolava, a filhote tinha atingido uma pedrinha que, por menor que fosse, era afiada e, com a velocidade da queda e impacto, abriu um pequeno rasgo em sua cabeça.

Amadi se levanta lentamente com a testa franzida de dor. A cabeça dela latejava onde a pedra a tinha cortado e ela solta um bufo de frustração. 

Ela marcha em direção à árvore de raíz curvada, procurando o que a fez tropeçar.

Ao notar o tufo de pelos de uma cauda saindo de uma moita, Amadi ergue a pata e dá uma bofetada na cauda, pensando ser Hakuwa que estava escondido.

A cauda é recolhida para dentro da moita imediatamente e um farfalhar breve revela um focinho canino e uma fileira de dentes pontudos.

A filhote recua, percebendo tarde demais que tinha acertado a cauda de uma hiena adulta.

— Ora, ora, o que temos aqui? — A hiena ri. 


[...]


Hakuwa volta para o clubinho da árvore antes do que tinha esperado. O filhote estava ofegante, mas a corrida tinha valido a pena.

— Hakuwa, ficou maluco? — Adanna pergunta. A filhote tinha sido a primeira a notar o retorno do irmão e se aproximou com uma expressão brava. — Amadi poderia ter te machucado!

— Mas não machucou — o filhote retruca de forma desdenhosa. — Além disso, valeu a corrida. Eu faria tudo de novo. 

Adanna revira os olhos e encara o outro com o cenho franzido e uma sobrancelha arqueada. — Ué, onde está Amadi?

— Não é óbvio? — Wazi sorri debochada, se aproximando. — Ela ficou para trás. Não foi párea para a velocidade do Hakuwa.

— Ela tropeçou em alguma coisa floresta a dentro. Saiu rolando e caiu de cara no chão — Hakuwa explica, tentando – e falhando – segurar o riso.

— Como é? — Wami, que até então perseguia Sawa, indaga. A testa da menor estava franzida de preocupação. 

— É, ela saiu rolando e caiu de cara — Hakuwa solta uma risada. — Foi uma cena impagável, vocês tinham que ver!

— Hakuwa! — Akili repreende. — Deixou ela sozinha no meio da floresta?!

— Ué, foi ela que começou a me perseguir — o príncipe se defendeu, desviando o olhar.

— Porque você pisou na cauda dela — Kisai retruca, soltando um suspiro.

— E que culpa tenho eu? Não vou voltar para me desculpar — o dourado bufou em protesto. — Ela mereceu por tentar assustar Akili.

— Não para se desculpar, mas pelo menos para trazê-la de volta — Adanna explica. — Sei que ela é uma valentona, mas o senso de direção dela é no mínimo...questionável.

— Péssimo — Udadisi corrige, se aproximando. Já haviam alguns dias que o filhote estava se aproximando dos outros para brincar, trazendo Kiny junto consigo.

Adanna concorda com a cabeça ao ouvir Udadisi. — É o mínimo que você pode fazer depois de deixá-la para trás, Hakuwa.

Hakuwa inclina a cabeça para o céu e solta um suspiro irritado. — Está bem, está bem. Eu busco a encrenqueira. Mas só porquê Kira ficará preocupada se voltarmos sem ela. 


[...]


Amadi recuava em passos lentos. O corpo da filhote tremia e, apesar de esboçar uma expressão de corajosa, o medo era evidente em seus olhos.

O sorriso da hiena se alarga ao notar o tremor do corpo da menor. 

Amadi estava em desvantagem e sabia disso. A perseguição atrás de Hakuwa a deixou com pouca energia e qualquer movimento em falso a faria virar lanche de hiena.

— M-me desculpe — gaguejou, se praguejando mentalmente por parecer tão vulnerável na frente da predadora. — Eu não queria...

— Mas fez! — A hiena esbraveja, se aproximando da filhote. — Atingiu minha pobre cauda sem nenhum pudor, sua malditinha!

Amadi se encolhe com o tom ríspido da hiena. Os olhos da pequena fitam o chão e ela engole em seco. Podia sentir seu coração disparando a cada segundo que passava, como se fosse sair pela boca. 

— Vou usar seus ossinhos para palitar meus dentes! — A hiena grita, avançando para cima de Amadi. 

A filhote, em resposta, se põe a correr em disparada pela floresta, passando por galhos baixos e arbustos numa tentativa falha de escapar.

Apesar de cansada, a adrenalina de Amadi falava mais alto, bombeando o sangue em suas veias com mais rapidez. 

A visão da pequena começava a escurecer conforme ela corria e, usando a adrenalina, Amadi sobe um pequeno amontoado de rochas, sentindo a hiena em seu encalço.

(Imagem de minha autoria, não use sem permissão)

Eventualmente, ao ganhar mais distância da hiena, algo a puxou para o tronco oco de uma árvore. A filhote não tem tempo de gritar pois uma pata cobre sua boca. 

— Shh, fique quieta — uma voz sussurra no ouvido de Amadi. 

Os olhos da filhote se alargam ao notar quem era e logo se estreitam de raiva. 

Era tudo culpa desse engomadinho!

Amadi começa a se debater para se soltar, soltando bufos e protestos abafados. 

Hakuwa revira os olhos, destampando a boca da filhote.

— Quer virar comida de hiena? — O príncipe pergunta, claramente irritado. — Se não fosse por mim, você teria caído de novo, dessa vez de cara nas rochas que escalou.

Amadi estremece. Com a adrenalina, a filhote tinha se esquecido momentaneamente do corte em sua cabeça e agora que o efeito estava passando, a dor que a consumia antes voltara dez vezes pior.

— Isso não teria acontecido se você não tivesse pisado em minha cauda — resmungou, franzindo a testa e levando a pata até seu corte. — É tudo culpa sua!

— É, é, que seja — Hakuwa revira os olhos. — Escute, se quisermos sair daqui vivos, vai ter que fazer o que eu mandar. Vou distrair a hiena e você foge.

— Não vou seguir ordens de um engomadinho qualquer — Amadi protesta. 

Hakuwa solta um rosnado baixo, levando a pata ao corte na cabeça da outra filhote e a pressionando contra o sangue. 

Amadi sibila de dor, se afastando do toque de Hakuwa como se brasas tocassem sua pele.

— O que pensa que está... — A frase se prende em sua garganta ao ver o filhote passar o sangue de sua ferida em seu corpo.

— A essa altura, a carniceira já decorou seu cheiro por causa do machucado — Hakuwa explica, focando na tarefa em suas patas. — Sou mais rápido que você, vou distraí-la para você ganhar tempo e fugir. Siga a claridade nas copas das árvores, vai encontrar o clubinho e fugir com os outros.

Amadi abre a boca para protestar, mas Hakuwa a corta.

— Não acredito que estou fazendo isso — resmungou —, mas como príncipe e futuro rei, estou ordenando que você cale a boca e me deixe te ajudar.

Os olhos de Amadi se alargam e o rosto dela se contorce em uma carranca de raiva antes de ela relutantemente concordar com a cabeça.

— Está bem — murmurou num tom baixo.

— Ótimo — Hakuwa abre um sorrisinho, espiando pela fresta do tronco em busca da hiena. — A barra está limpa. Espere ela sair atrás de mim pra você correr. 

Hakuwa hesita antes de sair lentamente do tronco. 

O pequeno foi esperto ao esfregar o sangue de Amadi pelo corpo, manchando alguns pontos chave em sua pelagem para se esfregar contra folhas, galhos e raízes. 

Não demora muito para Amadi ver a hiena correr de volta para a área, farejando enquanto procurava Hakuwa, que tinha se escondido em arbustos densos e espinhosos. 

— É medo ou coragem que te motiva, malditinha? — A hiena branda, sua risada maldosa ecoando pela floresta. 

Aproveitando a distração da carniceira, Amadi sai lentamente do tronco. A hiena não a percebe, se aproximando cada vez mais do esconderijo de Hakuwa.

O focinho dela adentra o arbusto lentamente, seus dentes afiados a postos para estraçalhar quem ela pensava ser a filhote. 

Ao invés de morder a carne macia de Hakuwa, no entanto, a hiena acaba mordendo um dos galhos espinhosos que Hakuwa moveu e soltando um ganido de dor. 

É a brecha que Hakuwa precisava para disparar do arbusto, correndo na direção oposta da hiena, que começa a persegui-lo. O filhote usava os arbustos como cobertura, ocultando sua pelagem dourada da vista da carniceira.

Amadi observa por alguns segundos antes de começar a correr de volta para o clubinho, quase trombando com Kisai no processo. 

— Amadi? — A filhote escura pergunta, com sua sobrancelha arqueando. — O que aconteceu? Onde está...

— Vamos, seus imbecis! — A filhote manda, empurrando Kisai com a cabeça, quase sibilando de dor devido ao corte. — Hakuwa está distraindo a hiena, temos que voltar para o reino agora!

Kisai tenta protestar, mas acaba se deixando ser empurrada por Amadi por poucos segundos antes de se afastar da filhote para guiar os outros para a entrada da floresta. 

Os outros filhotes encaram Amadi confusos antes de obedecerem, seguindo-a para fora da floresta. 

Quando todos passam o pequeno riacho que divide a floresta do reino, Hakuwa sai da floresta. 

— Vamos, vamos — o filhote apressou os outros, que notaram a pelagem dele molhada de água e resquícios de sangue. — Eu consegui atrair ela para longe, mas é melhor corrermos.

Os filhotes ouvem, não querendo ficar para trás e encarar a fúria da hiena. A entrada da floresta tinha ficado estranhamente quieta de repente, mas os filhotes continuaram a correr de volta ao reino sem olhar para trás.


[...]


Os filhotes chegam a escadaria da caverna cansados e ofegantes, mas rindo e brincando entre si. Era claro que a única que tinha ficado incomodada com a situação foi Amadi.

— Isso é tudo culpa sua, engomadinho! — A filhote clara repreendeu, se virando para encarar Hakuwa com raiva. — O que estava pensando ao pisar em minha cauda, hein?!

Hakuwa revira os olhos e torce o focinho. — Você reclama de tudo, Amadi.

— Reclamo quando estou certa — Amadi se defende, batendo a pata dianteira no chão. — Ficou maluco? Não só você me colocou em perigo, como também colocou aos outros!

— Você se colocou em perigo sozinha, Amadi — Hakuwa torce o focinho novamente. — Você que irritou aquela carniceira! Eu poderia ter te deixado sozinha lá atrás!

— Pela primeira vez, concordo com ele, Ama — Udadisi se intromete, franzindo o cenho. 

— Está do lado... — antes que Amadi possa terminar a frase, Udadisi a corta.

— Não comece com isso, Amadi! Pôs em perigo todos nós ao atrair uma hiena! — O filhote exclama.

Amadi se encolhe com o tom ríspido de Udadisi. O filhote nunca tinha falado assim com ela.

— Não foi minha culpa! — A filhote esbraveja, mostrando os dentes para o irmão. — Se o engomadinho não tivesse...

— Você não tinha que tentar assustar Akili, muito menos perseguir ele, Amadi! — Udadisi a interrompe novamente. — Eu disse que não tinha motivos pra isso, mas você nunca me escuta, não é?!

— Udadisi... — Akili põe a pata no ombro do filhote numa falha tentativa de acalmá-lo, mas ele a ignora, afastando a pata dela de seu ombro.

— Não, já chega disso! — Esbravejou ele. — Desde que viemos pra Anida, você só sabe julgar e criticar os outros e eu estou farto disso. Kiny e eu estamos! É ridículo, Amadi! 

Amadi se encolhe ainda mais. Já tinha visto Udadisi bravo, mas isso era novo. Ainda assim, a filhote se recusava a recuar.

— Ah, eu sabia que deixar você andar com os engomadinhos e as aberrações iria fazer você sofrer lavagem cerebral! — Amadi esbraveja, dando um passo ameaçador na direção do irmão. — E tudo por causa de uma quedinha idiota!


[...]


Os primeiros raios da tarde estavam adornando Rivalon, pintando os céus em tons de laranja, vermelho e amarelo.

Askari fazia uma caminhada pelo reino. 

O leão estava sentindo cheiros familiares e pequenos flashes de memória invadiam sua mente. 

Pelo que ele tinha conseguido entender de suas memórias embaralhadas, ele e Wonaji tiveram alguma coisa. Um relacionamento, talvez. 

Os cheiros familiares ajudavam com sua memória falha, e aquela anciã, Waganga, parecia conhecê-lo também. 

Askari se aproximava da caverna, a testa do leão franzida enquanto ele estava em pensamento profundo. 

— Memórias são tão complicadas, não são, jovem? — Uma voz feminina pergunta. 

Askari ergue os olhos, fitando, no alto da escadaria rochosa, a anciã. 

Ela o encarava com certo divertimento, como se soubesse de algo que Askari não sabia. 

A testa de Askari se franze mais. 

— Cuidado, cuidado. Sua testa vai rachar assim e seu rosto vai congelar em uma carranca permanente — a mais velha brincou, descendo a escadaria para ir de encontro ao macho. — Pode ajudar uma velha leoa a colher algumas plantas?

Waganga não espera Askari falar, gentilmente o empurrando com o ombro para segui-la escadaria a baixo.

Ele a segue a contragosto.

Os dois caminham em um silêncio confortável por alguns minutos, os únicos sons sendo o piar dos pássaros, o vento batendo nas folhas das árvores e arbustos e o cantarolar ocasional da anciã. 

— O quanto...você se lembra? — Waganga perguntou de repente, parando e se inclinando para farejar alguns arbustos de Artemísia Afra.

Askari, atônito com a pergunta repentina, arqueia a sobrancelha. — O que?

— Eu fui chamada para seu tratamento muitas luas atrás, quando você ainda estava inconsciente, jovem — ela responde, usando as patas dianteiras para escolher algumas flores.

Askari inclina a cabeça para o lado, só agora notando a bolsa de folhas e cipós ao redor do pescoço da mais velha.

— Você...estava lá? — Questionou, seus olhos verde esmeralda encarando a leoa com confusão. 

— Se eu estava lá? — Waganga solta uma risada baixa, pegando as flores com sua boca e abrindo a bolsa para colocá-las dentro. — Realmente não se lembra, hm?

A cabeça de Askari começa a doer. Um leve latejar que o faz sibilar e se encolher involuntariamente. 

— Não se preocupe, jovem — Waganga assegura. — As dores de cabeça são suas memórias voltando aos poucos. 

Mas isso não parecia 'aos poucos'.

— Seu...seu cheiro... — o leão franze a testa, balançando a cabeça num movimento rápido, como se estivesse com tontura.

— As paredes cavernas das curandeiras de Butsara são adornadas com minérios — a mais velha explica com um sorriso pequeno em seus lábios. — Diamantes, ouro, cobalto... Esses são só alguns deles. Além disso — ergueu o pescoço e ali, escondido entre os tufos grossos da pelagem da garganta de Waganga, estava um colar simples de cipó com uma pedra azul entre duas presas, arrancadas de algum carnívoro —, eu sempre carrego um pedaço de casa comigo.

O focinho de Askari se torce. 

— Eu...me lembro desse cheiro — resmungou o macho. 

— Sabe, Juba de Ônix — Waganga solta uma risada baixa, pegando mais algumas flores de Artemísia Afra —, sua mãe tinha muito potencial como curandeira. 

— Minha...mãe? 

— Mhm. Era boa com plantas, mas tinha uma cabeça dura... Um amor de leoa, realmente — Waganga entrega o punhado mais recente de flores para Askari. — Aqui. Para a dor de cabeça. 

O leão hesita antes de pegar as flores com a boca, agradecendo com a cabeça. Antes que pudesse fazer mais alguma pergunta para Waganga, ela já estava sumindo por entre a relva alta. 

Que leoa mais...peculiar.



sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Roar from Within: Contos de Anida [Cap. 7 – A Decisão do Conselho]

Após as palavras de Nadia, a tensão na caverna começa a se dissipar. 

Os outros leões, que há tempos não se viam, se levantam para se cumprimentar e conversar uns com os outros. 

Hasi é rápido em se virar e ir até Endra, puxando a princesa para um abraço. — Ficou maluca de vir aqui? — Ele pergunta num tom preocupado.

— Ora essa, Hasi. Eu devia estar te perguntando a mesma coisa — Endra retruca rindo levemente. — O que veio fazer aqui?

— Bem, tecnicamente, agora faço parte do Conselho — ele explica. — Depois que mamãe e papai te exilaram, começaram a encher meus ouvidos sobre o que eu devia ou não fazer. 

Hasi solta um suspiro irritado. — Fizeram o coitado do Rahim me escoltar até aqui — gesticula com a cabeça para o leão escuro que tinha entrado junto com ele e seus pais. 

Endra concorda com a cabeça. Sabia o quão cabeça dura Ananda e Dhalimu podiam ser, principalmente quando se tratava dos primos dela.

Os olhos de Endra se iluminam brevemente. — Ah, Hasi, quero que conheça alguém — ela diz, guiando Hasi na direção de Habi e Thadi, que agora conversavam com um leão dourado de juba vermelha e ao que parecia, sua parceira e mais um leão de pelo alaranjado de juba preta, que estava carrancudo. — Tia Habi, esse é meu primo, príncipe Hasi.

Habi se vira ao ouvir a voz de Endra.

— Ah, Endra, querida — a mais velha sorriu educadamente, fazendo uma breve reverência para Hasi, que retribui. — Por favor, juntem-se a nós. Sarabi e Mufasa estavam nos contando das peripécias de seu filho.

— Peripécias? — Endra ri, se virando para Hasi com uma sobrancelha arqueada. — Puxa, ele me lembra alguém...

— Nosso pequeno Simba — a leoa – Sarabi – ri. — Ele está crescendo tão rápido. Mal conseguimos acompanhar.

— Está fazendo um bom trabalho, Sarabi — o leão de juba preta resmunga num tom entediado. — A bolinha peluda está crescendo como deveria. Você está se certificando disso. 

— Você me dá muito crédito, Scar — Sarabi revira os olhos, sorrindo agradecida.

— Apenas onde é necessário — Scar aponta, se levantando para se afastar. — Se me derem licença, tenho alguns assuntos para resolver. 

Os seis o observam sair e a testa de Endra se franze ligeiramente.

— Que bicho mordeu ele? — A princesa questionou.

— Não se preocupe — Mufasa tranquiliza com um sorriso pequeno. — Tak- Scar sempre fica mau humorado se não tomar café da manhã. Ele nem sempre foi assim. 

Hasi e Endra trocam olhares com a correção repentina de Mufasa, mas não comentam. Não era lugar deles se intrometerem nos assuntos de outro reino.


[...]


Com as primeiras estrelas se aparecendo no céu, Nadia ruge pra chamar a atenção dos leões presentes. Quando todos se reúnem novamente, ela e Nidijo se sentam na elevação rochosa.

— Habi, Endra, prossigam, por favor — a mais velha pede. 

— O conselho não foi reunido apenas para pedir justiça para a Princesa Endra — Habi começa, a testa da rainha se franzindo. — Temos uma questão mais séria em nossas patas.

Os leões ao redor começam a sussurrar entre si.

— Todos sabem que raramente pedimos reuniões de emergência graças aos nossos afazeres — Habi continua, a voz dela acabando com o burburinho. — Mas duas mensageiras de Anida foram atacadas a caminho de Rivalon. Duas adolescentes.

A tensão sobe rapidamente na caverna. Acusações são jogadas aos quatro cantos e palavras duras são trocadas.

— Ordem, ordem! — Nadia diz, as palavras da rainha caindo em ouvidos surdos.

Um rugido alto ecoa na caverna. Os olhos de todos se pousam em uma leoa de pelagem negra e olhos vermelhos, a mesma que Endra tinha avistado antes. 

O silêncio que vem após o rugido é quase tão ensurdecedor quanto o barulho do burburinho. 

La Reina pidió silencio — a leoa diz em um tom sério, ganhando alguns olhares confusos. 

Que tipo de dialeto era aquele?

— Façam...o que a moça gigante diz — uma leoa, já idosa, se pronuncia ao entrar na caverna com passos lentos e um tom divertido, sendo seguida por duas leoas mais novas, que se juntam aos leões sentados ao redor da caverna. A anciã solta uma risada divertida antes de continuar. — Ela tem um rugido e tanto, hm?

Os leões ao redor se curvam e Kinga abre um sorriso, correndo na direção da leoa para abraça-la.

— Vovó! — Exclama a amarronzada, o sorriso da leoa se alargando.

A leoa sorri em resposta, retribuindo o abraço da mais nova antes de se afastar. Kinga acompanha Waganga até o centro da caverna, retornando para se sentar ao lado de Kamilla junto dos outros leões.

— Vocês mais novos, sempre apressados — a leoa reclama, a voz dela contendo uma pitada de travessura. — Onde já se viu, começando o conselho sem todos os idosos presentes?

— Waganga — Hadassah cumprimenta, a testa dela franzindo. — Sabe que não pode viajar longas distâncias, sua velha teimosa. 

— E perder a chance de ver minha primeira e única neta? — Waganga retruca. — Nem que Mkuu me leve! 

Algumas risadas divertidas são ouvidas. 

Apesar da idade, Waganga continha o espírito brincalhão de uma filhote e todos sabiam do carinho imenso que a mais velha sentia por Kinga. 

— A morte está pairando pelos reinos — Waganga avisa, a voz da mais velha ficando séria. — Uma sombra que se alastra pelos reinos, tão pesada e espessa que me dá asco só de respirar.

— Do que está falando, sua velha gagá? — Dhalimu resmunga num tom zombeteiro. — Uma de suas aprendizes teve outra visão?

Os olhos de Waganga se estreitam na direção de Dhalimu. — Ananda lhe dá muito crédito para um rei consorte — ela diz ríspida. — Você e ela fedem a morte, a sangue inocente.

O sangue de Dhalimu e Ananda gela com a acusação da anciã. 

— Que patéticos — Waganga continua, dando passos de um lado para o outro no centro da caverna. — Fadhili e Heshima mal voltaram para o solo e vocês expulsaram a filha deles, princesa legítima do reino, por algo que sequer foi culpa dela. Patéticos. Patéticos, eu digo!

— Waganga está certa — Hasi comenta, se levantando para se aproximar de Waganga com um olhar determinado. — O que meus pais fizeram foi injusto com Endra. 

Chaga se aventurou no exílio por conta própria naquele dia, ele mesmo tinha admitido para Hasi. E por negligência e incompetência de Ananda e Dhalimu, Chaga tinha sido picado por uma aranha peçonhenta.

Quando Endra ouviu o grito agoniado do primo caçula, a mais velha correu para ajudá-lo, o carregando as pressas para as curandeiras.

Se a princesa não estivesse por perto, o destino de Chaga teria sido fatal. O filhote tinha o costume idiota de vagar sem rumo por aí, isso o trazia problemas na maioria das vezes.

— O garoto fala com sabedoria — a voz de Waganga tinha tomado um tom pensativo. — Temos em nossas patas, dois dilemas. Dois problemas definitivos — a mais velha se vira e lança um sorriso reconfortante para Endra. — Minha querida, por mais que a decisão de seus tios tenha sido brusca e ríspida, você ainda tem direito a opinar quanto sua estadia. Afinal, você é da realeza. 

Os leões ao redor rugem em concordância. 

— Princesa Endra, de Wishar, filha da finada Rainha Fadhili e do finado Rei Heshima — Nadia chama, convidando a mais nova a se pôr na frente do amontoado. — Como uma princesa, seu sangue real lhe dá o direito de ir e vir, governar ou abdicar do trono de seu reino.

Endra confirma com a cabeça, sabendo o que Nadia implicava com as palavras dela. 

— O Conselho está lhe dando a opção de permanecer no trono de Wishar — Nadia continua, erguendo as patas dianteiras para pesar os prós e contras nelas —, ou de abdicar do trono, o passando para o próximo na linha de sucessão, que nesse caso, é o Príncipe Hasi. 

— O Conselho não tem o direito de interferir nas decisões de um Reino! — Dhalimu protesta, dando um passo a frente.

— O Conselho tem o direito de interferir se a decisão for vista como injusta — Endra corrige, a atenção da leoa jubada se voltando para o tio. — E se o Conselho me considera digna de tal julgamento, quem sou eu ou você para questionar?

Dhalimu rosna e Ananda o puxa para trás, a testa dela franzida em irritação. 

Por mais que ela quisesse negar, Endra estava certa: o Conselho tinha sim o direito de interferir em decisões injustas tomadas por um reino. 

Endra limpa a garganta. — Eu, Princesa Endra, de Wishar — a princesa começa, a cabeça erguida —, abdico do trono de Wishar e o passo diretamente para o Príncipe Hasi. Salve o Príncipe! 

Endra ergue a pata e a bate no chão com um rugido. 

Os outros leões comemoram com rugidos enquanto Hasi, Ananda e Dhalimu encaram a princesa com expressões perplexas.

Ananda se aproxima da sobrinha com passos rápidos, ignorando a comoção. — Endra, tem noção do que fez?!

Endra a encara confusa.

— Você me queria fora do reino — a jubada sibila. — Hasi tem uma qualificação melhor para ser rei. Ele vai ser o futuro do reino.

— Sua pirralha ingrata! — Ananda grita. Os olhos rosados da leoa brilhavam com fúria e Endra dá um passo hesitante para trás. 

Pela primeira vez ela estava com medo da reação explosiva da tia.

A comoção diminui com o grito de Ananda.

— Não envenenei minha irmã para que você passasse o trono para Hasi! — Ananda, cega pela raiva, aumenta o tom de voz, as garras da mais velha a mostra enquanto ela tenta usar sua estatura para intimidar Endra. — Eu deveria ser a sucessora!

O silêncio se alastra pela caverna e só então Ananda percebe seu erro.

A leoa olha em volta e suas orelhas se achatam contra sua cabeça. Em vez de admitir seu erro, Ananda rosna, sua raiva voltando dez vezes pior direcionada a Endra.

Ananda avança rápido, se movendo para atacar Endra. 

Antes que ela possa, Rahim é rápido em pular e segurar a leoa pela nuca, a afastando de Endra, que agora se encontrava em estado catatônico enquanto Ananda se debatia numa tentativa falha de se soltar.

Outra comoção começa na caverna. Dessa vez, gritos de indignação e irritação com a atrocidade que saiu da boca de Ananda ecoam.

— Rahim, solte-a! — Dhalimu exclama, marchando na direção do leão que segurava a nuca de sua esposa. 

Thadi impede a aproximação de Dhalimu pisando na frente do outro. A estatura do leão dourado faz Dhalimu hesitar, Thadi era um bom lutador, sem contar que era um leão grande. Dhalimu não duraria muito com o rei de Anida.

— Como você ousa?! — Alguém grita, a raiva direcionada a Ananda e Dhalimu.

Os olhos de Endra estavam alargados, a respiração dela descompassada enquanto ela tentava compreender o que tinha acabado de ouvir. 

Habi e Hasi se aproximam da mais nova, vendo o pânico se instalar no corpo dela. 

— Endra, está me ouvindo? — Habi pergunta, a voz dela preocupada enquanto ela ergue a pata para tocar o ombro da leoa jubada. 

Ela não responde. 

Um zumbido invadia os ouvidos de Endra. 

A mente da mais nova vagou para os dias em que seus pais começaram a adoecer. Tinha sido tão rápido, tão inesperado. E agora, tudo fazia sentido. 

Envenenamento por Gloriosa Superba.

A resposta estava debaixo do focinho de Endra esse tempo inteiro. 

Um arrepio percorreu a espinha de Endra e ela volta a si, soltando um rugido alto que acaba com a comoção. 

Hasi e Habi dão um passo para trás com o rugido súbito. Endra passa pelos dois, marchando com passos pesados na direção de Ananda. 

— O que pensa que fez, Ananda?! — Ela grita sem se importar com o honrífico outrora carinhoso.

Rahim solta Ananda, que cai no chão com um thud suave.

Ananda rosna, o olhar rosado fixo em suas próprias patas.

A cena era muito familiar para ela. Fadhili a tinha perguntado algo similar anos atrás e a memória deixava um gosto amargo na boca da leoa.

Era como se ela fosse novamente aquela filhote que atacou Mtawala, carregada para a caverna real de Anida por Rahim como castigo a contragosto.

Endra, apesar de ainda ser uma adolescente, parecia uma torre comparada a Ananda. Isso fazia a leoa de pelo alaranjado se sentir pequena e insignificante.

— É verdade, mamãe? — Hasi se aproxima das duas com a testa franzida em uma expressão magoada. Não queria acreditar que a mãe tivesse realizado tal ato.

Dhalimu tenta se aproximar, mas Thadi é mais rápido e pula na frente do outro, novamente o bloqueando.

— Mais um passo — o rei avisa com um rosnado —, e seu destino estará selado.

— Responda! — Hasi grita. — Envenenou meus tios?!

O silêncio perpetua na caverna. Os presentes pareciam segurar as respirações, esperando, desejando que Ananda estivesse blefando.

— E-eu...sim — Ananda diz, erguendo o olhar. — Eu os envenenei. 

Nenhum pingo de remorso passa pelos olhos de Ananda quando ela confessa seu crime.

A caverna explode em xingamentos direcionados a ela e Dhalimu.

Endra rosna, pulando em Ananda e a imobilizando no chão.

— Assassina! — A mais nova grita. 

Ananda abre um sorriso debochado.

— Me matar agora não vai trazer seus queridos pais de volta, pirralha — a leoa provoca. — Ainda sou a rainha de Wishar, não pode fazer nada contra mim!

— Ela não pode, mas o Conselho sim — Waganga se intromete, o rosto enrugado da mais velha virando para Nadia.

— Ananda, seus crimes contra seu cunhado e sua própria irmã são puníveis com a morte — Nadia começa, as palavras da rainha ecoando na caverna. — No entanto, em consideração aos Príncipes Hasi e Chaga, estamos dispostos a ser mais clementes. Você e seu marido estão banidos oficialmente do Conselho até o Príncipe Hasi assumir o trono de Wishar.

Os outros reis murmuram em concordância.

— Decidiremos isso com uma votação. Se alguém além de vocês se opor, poderão permanecer — Nidijo conclui no lugar da mãe. — Caso o contrário, vocês não só estarão banidos do conselho, como também de todos os reinos que o compõe e somente o Príncipe poderá tomar ações relacionadas as reuniões. Rainha Habi e Rei Thadi, de Anida, estão de acordo com o banimento?

Habi põe a pata no ombro de Endra, a afastando de Ananda, que rosna para a sobrinha ao se levantar. 

— Estamos a favor do banimento deles — a voz de Habi sai convicta. — Fadhili e Heshima eram amigos muito queridos e próximos. Endra teve que correr para Anida para nos informar do falecimento deles.

Thadi confirma com a cabeça, ainda impedindo Dhalimu de se aproximar.

Nidijo confirma com a cabeça, o olhar dele passando para os próximos reis — Rei Sahasí e Rainha Anaanda, da Árvore da Vida?

Sahasí e Anaanda trocam breves olhares e a leoa põe a pata sobre a do marido.

— A favor do banimento — o rei de pelagem marrom diz. 

— Rainha Hadassah e Rei Mtawala, de Butsara? — Nidijo pergunta. 

— Banimento — Mtawala diz, lançando um sorriso apoiador para Habi e Endra. — Você tem todo nosso apoio, irmã. Você também, princesa Endra.

Hadassah esfrega a bochecha contra a do marido de forma carinhosa e confirma com a cabeça.

O olhar de Nidijo então se muda para os reis de Dugani. Ele sabia que os últimos meses tinham sido difíceis para os dois, principalmente depois do desaparecimento dos filhotes reais. 

Nidijo hesita. — R-Rainha Ariana e Rei Wiba, de Dugani?

A rainha de pelagem vermelha e olhos verdes pigarreia antes de erguer o olhar. — Estamos...de acordo com o banimento. 

Nidijo só pode lançar um sorriso agradecido antes de prosseguir. — Rei Aeris e Rainha Yasu, do Reino das Rochas? 

Os reis, que trocavam carícias, encaram Nidijo com ligeira irritação por serem interrompidos antes de Aeris se pronunciar.

— A favor — o leão brande. — O que Ananda fez não só foi errado, como também violou as regras dos reinos. Se ela quisesse tanto assumir o trono de Wishar, deveria ter desafiado a irmã.

— Envenenando a irmã e cunhado de forma tão fria — Yasu continua, sua voz era firme, sem dar espaços para brechas ou gaguejos —, Ananda provou que não passa de uma covarde. Seguimos firmes com a decisão de bani-los do Conselho.

— Rei Kiros e Rainha Bianka, das Terras do Norte? — O olhar de Nidijo muda para o leão alaranjado com uma listra na cabeça, sentado mais afastado dos outros com alguns membros de seu orgulho.

— A favor — Kiros responde. Os olhos vermelhos do leão eram como fogo: penetrantes e intimidadores. O desgosto que ele sentia pela situação era palpável. 

Kiros era um leão de poucas palavras e muitas vezes visto como frio. O filho de Kiros, Shaju, não era muito diferente do pai. Tinha a mesma listra na cabeça, um traço comum na família real das Terras do Norte, mas os olhos bicolores e o pelo mais puxado para o ocre, como a pelagem da mãe, sem contar que o mais novo possuía um sorriso arrogante.

Nidijo não gostava deles. Nadia já o tinha avisado que os membros do orgulho das Terras do Norte não prestavam e Nidijo estava começando a ver isso também.

— Rei Mufasa, Rainha Sarabi e Príncipe Scar, das Terras do Reino, também estão de acordo? — Nidijo pergunta, pigarreando e desviando o olhar do pequeno grupo que acompanhava Kiros.

— Sim — Mufasa diz, a testa do leão se franzindo. — Tal ato de covardia não deve ser ignorado.

— Só nos mostra que, se Ananda e Dhalimu fizeram isso com os próprios familiares, poderiam fazer com qualquer um — Scar finalmente se pronuncia, os olhos de esmeralda do leão alaranjado se estreitando. — Quem sabe o que fariam com a Princesa Endra?

— Por fim, mas não menos importante — Nidijo continua, os olhos vermelhos do leão pousando no último casal de reis —, Rei Obasi e Rainha Eshe.

Obasi, que estava deitado ao lado de Eshe, solta um bocejo e ergue a cabeça. A orelha do leão treme ligeiramente antes dele se levantar.

— Estamos a favor — o mais velho diz. 

— Até porque, quem garante que Ananda e Dhalimu não tentem fazer o mesmo com algum filhote, não é mesmo? — Eshe diz, os olhos gentis da leoa brilhando de preocupação. 

O olhar de todos então se voltam para Hasi.

A decisão final estava nas patas dele.


[...]


— Kisai avisou pra nos deixar em paz, Amadi! — Wami exclama, o corpo da filhote estava posicionado protetoramente na frente da irmã, que se encolhia e cobria a cabeça com as patas dianteiras.

— É mesmo? — Amadi debocha, usando a estatura dela para intimidar as gêmeas. — Que engraçado, não estou vendo ele aqui.

Wami e Wazi se encolhem com o tom, não gostando do fato de Amadi usar o gênero incorreto para se referir a Kisai.

Amadi abre a boca, provavelmente para provocá-las ainda mais, mas é bruscamente empurrada para o lado. A filhote rola alguns metros antes de chacoalhar a cabeça e se levantar, rosnando para Hasa, que agora estava na frente das gêmeas.

— Por que não enfrenta alguém do seu tamanho, sua fedelha? — Ele desafia, rosnando e mostrando as garras.

Amadi solta um rosnado baixo, prestes a retrucar, quando os arbustos ao redor deles se movem e Walimu e Kami aparecem, a encarando com olhares de reprovação.

— É tão covarde que teve que trazer sua cavalaria, Hasa? — A filhote de pelagem avermelhada provoca, não se deixando mostrar abalada pela aparição dos outros dois.

— Se tem alguém covarde aqui, é você, Amadi — Kami retruca, a testa da filhote franzindo em irritação e desgosto. — Intimidando filhotes menores que você por pura diversão? Eu esperava isso de Udadisi, não de você.

— Não se meta nisso, sem orgulho, ou sua irmã não vai ser a única a levar uma coça — Amadi sibila ao se virar para sair. — Cedo ou tarde, Habi e Thadi não estenderão mais gentilezas para vocês e sua família e vocês serão forçados a deixar Anida e voltar a seus hábitos nômades.

As palavras duras de Amadi deixa os três filhotes atônitos. A hostilidade de Amadi já era de se esperar, mas eles nunca poderiam imaginar que ela usaria os pronomes errados propositalmente para se referir a Kisai e Hasa.

Ainda assim, Kami é a primeira a se aproximar de Wami e Wazi com um sorriso tenso.

— Vocês estão bem? — A filhote perguntou.

De longe, Udadisi assistia a cena com a testa franzida e o nariz torto. Os olhos do filhote brilhavam com um misto de emoções. 

Que sentimento estranho era esse?


[...]


Hasi engole em seco.

O destino de Wishar estava nas patas dele agora.

O leão engole em seco, fechando os olhos e respirando fundo.

— Eu, Príncipe Hasi, de Wishar — começou, a voz dele soando ligeiramente tensa —, apoio a decisão do Conselho de banir meus pais.

Os leões rugem em uníssono. A satisfação deles era palpável, apesar da tensão.

— No entanto, eu tenho um comunicado — Hasi continua, fazendo a comemoração sessar. — Não posso assumir um trono que foi banhado em sangue antes de ser passado para mim. Não seria correto e meus tios ficariam decepcionados.

— Hasi, o que está fazendo? — Endra questiona.

Hasi lhe lança um sorriso reconfortante e se vira para Nidijo e Nadia com um olhar decidido.

— Eu renuncio ao trono de Wishar! — O príncipe exclama antes de se virar para os pais, os encarando com desgosto. — O trono de Wishar passará para o Princípe Chaga quando o mesmo tiver idade o bastante.

Os olhos de Dhalimu e Ananda brilham com fúria.

Num momento de impulso, Dhalimu passa por Thadi, esbarrando com força no ombro do rei e marchando na direção de Endra com passos rápidos.

Ele não chega muito longe, no entanto. Laken se põe na frente da princesa, silenciosamente desafiando Dhalimu a testá-lo.

— Saia da frente, aberração — Dhalimu sibila. — Ou vai se arrepender.

— Quero vê-lo tentar, desgarrado invasor — Laken retruca, o tom do mais novo baixo e ameaçador. 

Dhalimu se põe em uma posição de ataque, mas não consegue dar o bote. Rahim usa a mesma técnica que usara com Ananda em Dhalimu, impedindo o ataque.

Laken sabia que, mesmo se Dhalimu tentasse atacá-lo, o mais velho não lhe causaria muito dano. Dhalimu podia ser mais experiente em combate, mas Laken era mais novo e rápido. O rei tirânico se cansaria rapidamente.

— Já chega! — Endra exclama, o olhar da princesa passando de Ananda para Dhalimu. 

A expressão dela era indecifrável, mas sua irritação era palpável. 

— Sua pirralha imprestável! — Ananda ruge. — Acha que vai ficar por isso mesmo?! Seus pais teriam vergonha de você!

— Não, eles teriam vergonha de você! — Endra cospe, a voz dela pingando com veneno. Os olhos de Ananda se alargam com o tom da mais nova. — O Conselho está sendo clemente, vocês cometeram traição!

— E eu faria tudo de novo! — A leoa alaranjada grita em um momento de raiva súbita. — A morte de seus pais é culpa sua!

A caverna fica em silêncio e a atmosfera fica fria. Endra fecha os olhos e respira fundo. 

— Não é culpa minha, Ananda, e você não vai mudar a narrativa da história — a mais nova declara, se afastando da tia. 

(Dêem play no vídeo, se der erro podem avisar ^^)


— Sua culpa não encaixa mais em mim, o seu medo não funciona mais em mim — Endra encara Ananda com um olhar determinado. — Eu larguei esse conceito, agora enfim, eu vivo o paraíso.

Os leões ao redor batem suas patas no chão, acompanhando o ritmo da voz da princesa.

— Não adianta me falar que eu 'tô errada — continuou —, eu não vejo o que você vê e nada me faria desistir de ser livre assim!

A voz de Endra carregava todas as emoções não ditas por ela: raiva, remorso, frustração, tristeza. Era um misto difícil de ignorar.

— Por tantas vezes eu me ajoelhei, pensando 'por que eu não posso ser como você?' — Ela canta depois de uma pausa breve. — Mas eu entendo que isso não sou eu.

As leoas harmonizam com Endra, as vozes dela ecoando suavemente pelas rochas da caverna.

— Por tantas vezes eu pedi pra ser normal — a pata de Endra passa pela juba dela, seus dedos dando um leve puxão na pelagem —, mas isso seria tão banal. Eu não quero me encaixar.

Com um olhar determinado, a princesa marcha até Ananda, parando na frente da mais velha.

— Esse medo que tu sente, eu não sinto — brandou, sorrindo determinada —, agora eu sei o que é mesmo o livre arbítrio. Fazer o bem porquê é certo, já que eu vou mesmo pro inferno!

Ananda rosna, mas Endra se afasta antes que a leoa possa tomar alguma atitude drástica. 

— Não adianta me falar que eu 'tô errada — a pata de Endra bate no chão e Nidijo faz um gesto leve com a cabeça, convidando Endra para subir a elevação. — Eu não vejo o que você vê e nada me faria desistir de ser livre assim — Endra sorri agradecida para Nidijo e sobe o amontoado de pedras, parando ao lado de Nadia. — Por tantas vezes eu me ajoelhei, pensando 'por que eu não posso ser como você?' Mas eu entendo que isso não sou eu!

Os machos começam a bater as patas no chão, soltando rugidos guturais e graves.

— Por tantas vezes eu pedi pra ser normal, mas isso seria tão banal. Eu não quero me encaixar — o cântico das leoas fica mais alto e os leões começam a harmonizar com elas. — Ah, ah. Ah, ah. Por tantas vezes eu me ajoelhei, pensando 'por que eu não posso ser como você?', mas eu entendo que isso não sou eu. 

A harmonização das leoas se cessa e elas batem as patas no chão. 

— Por tantas vezes eu pedi pra ser normal, mas isso seria tão banal. Eu não quero me encaixar. Ah, ah. Ah, ah — Nadia põe uma pata reconfortante no ombro de Endra, a voz da mais velha se misturando com a da mais nova enquanto fazem uma harmonização conjunta. — Oh, oh. Oh, oh.

Nadia dá um abraço breve em Endra. Um pequeno sorriso se forma nos lábios da leoa jubada e ela desce da elevação, parando na frente de Ananda novamente.

— Você é uma vergonha para o trono de Wishar, Ananda — Waganga sibila com os olhos estreitados. 

Ananda desvia o olhar e solta um rosnado.

— Não só para Wishar, como para todo e qualquer outro reino — Scar se intromete, dando um passo a frente. 

— O equilíbrio de Wishar foi perturbado com suas ações mesquinhas — Waganga continua —, e a Grande Mkuu vai puni-los grandemente por isso. Guarde minhas palavras, leoa olhos de cinábrio: você vai pagar um grande preço.

As palavras enigmáticas e crípticas de Waganga dão fim à reunião.

Dhalimu e Ananda são cercados pelos outros leões, que se aproximam com passos lentos e carrancas direcionadas a eles. 

Os dois, sem ver outra opção, recuam até a entrada da caverna, soltando rosnados e mostrando os dentes de forma defensiva. 

Isso não detém os outros leões, que continuam marchando para expulsá-los. 

Não demora para uma das leoas pular em Ananda, efetivamente fazendo a leoa alaranjada ser empurrada para fora da caverna junto de seu parceiro.

(Letra ligeiramente alterada. Espero que desfrutem ^^)

— Vergonhas, desgraças — A voz de Nidijo ecoa enquanto ele segue o grupo de leões.

— Humilhações para toda uma raça — Thadi e Hasi continuam.

— Vergonhas — o rei de Rivalon aumenta o tom de voz. 

— Ofensas — Nadia e Habi acrescentam.

— Desgraças — diz Thadi. 

— Atroz! — Endra se pronuncia.

— Vieram trazer a discórdia entre nós — surge a voz grave de Obasi.

— Vergonhas — enfatiza Laken, franzindo o focinho. 

— Ofensas! — Tabia, outra leoa de Rivalon diz, aparecendo sob um rocha, e rosnando.

— Desgraças — Diz Askari bruscamente.

— Atroz! — Complementa Zura, o sentinela. 

— Ninguém mais vai confiar — Eshe estreita os olhos para Ananda e Dhalimu.

— Humilhações para toda uma raça — Hasi complementa. 

As vozes de Eshe e Bianka se harmonizam em uma só. — Vão embora agitadores!

Ananda e Dhalimu se vêem em um corredor de leões, olhando-os de cima a baixo, os seguindo com os olhos e rosnados, enquanto eles se distanciam.

— Nos deixem em paz! Ofensas! — Os leões da multidão se alternam para bradar — Desgraças, atroz!

— Traidores nunca mais! — Bianka bate sua pata contra o chão.

— Vieram trazer a discórdia entre nós — A voz grave de Obasi retorna, ainda mais decidida.

 — Vão embora agitadores! — Repetem Eshe e Bianka.

Os renegados são cercados pelas vozes de todos os leões, que seguem em constante marcha  — Trazem mal, trazem dor — harmonizam em alto e bom som. 

Belladonna, uma das aprendizes de Waganga, pula e tenta alcançar Ananda, que se encolhe.

— Cometeram traição — Kufuata, outro leão de Rivalon, tenta acertar Dhalimu, que recua para perto da parceira. 

— Pro seu lar fugirão — perto das bordas do reino, a multidão os acovarda cada vez mais —, mas não perdoaremos sem retribuição!

— Eles não são um de nós — os leões brandam em conjunto. — E jamais serão um de nós. Nunca foram um de nós, nem serão!

A marcha empurra Ananda e Dhalimu ainda mais para os limites do reino. Os dois sabiam que não poderiam se defender contra um grupo tão grande. — Quem matou um de nós, não mais voltará — continuam. — Pois, agora não há mais ninguém que vá acreditar que são um de nós.

— Pois, não são um de nós — Endra branda, a expressão da leoa mostrando decepção.

— Vergonhas — A mandíbula de Mufasa se cerra.

— Desgraças — Sarabi complementa, ao lado de Mufasa.

— Vergonhas — Scar sacode sua cabeça de um lado para o outro. 

— Desgraças — Kamilla continua, de sobrancelhas cerradas.

— Vergonhas — Hasi balança a cabeça negativamente, desviando o olhar enquanto assiste os pais fugirem.


[...]


As estrelas cobriam os céus de Anida e pintavam a tela escura acima dos animais com pontos brancos e cintilantes.

Udadisi estava inquieto na caverna desde que viu Amadi intimidando Wami e Wazi mais cedo naquele dia. Era estranho.

O filhote nunca se sentiu assim antes.

— Udadisi, pare quieto — Amadi reclama sonolenta, chutando o irmão enquanto se ajeita numa posição mais confortável. — Preciso do meu sono da beleza.

Udadisi grunhe com o chute, soltando um sibilo de dor e se levantando. 

O filhote estala a língua, já irritadiço por não conseguir dormir, e marcha para fora da caverna, se deitando sob as estrelas. 

Ele não costumava questionar as ações de Amadi antes, então o que havia mudado?

— Você está estranho — Udadisi ouve alguém dizer. 

O filhote franze a testa e olha para trás, vendo Akili sentada na entrada da caverna e o encarando.

— Pegou Febre da Girafa? — A filhote pergunta, se aproximando.

— Do...do que está falando? — Ele resmunga em resposta, voltando o olhar para frente.

— Não está mais zombando de nós, ou fazendo piadas de mau gosto — ela responde, se sentando ao lado dele e olhando para o céu estrelado. — Não que eu esteja reclamando, claro, mas o que deu em você?

Udadisi hesita. A cabeça do filhote se vira e ele olha para dentro da caverna, vendo Wami e Wazi deitadas juntas. 

Akili segue o olhar dele e abre um sorriso pequeno.

— Ah, entendi... — murmurou. — Udadisi tem uma quedinha. Mas por quem? Seria a Wami? — ela provocou com um sorrisinho travesso. Quando não viu reação, o sorriso de Akili se alargou — Ou talvez a Wazi?

A cabeça de Udadisi se vira na direção de Akili e ele a encara com a testa franzida.

— E daí que eu tenho uma quedinha por ela? — Bufou o filhote, cruzando as patas sobre o corpo e desviando o olhar com um rubor nas bochechas. 

— É por isso que você está tão quieto esses últimos dias — Akili ri levemente. — Não se preocupe, seu segredo está seguro comigo. 

E com a promessa ecoando nos ouvidos de Udadisi, Akili voltou para a caverna. 


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OLÁ TERRÁQUEOS SAUDAÇÕES )0)

Sua alienígena favorita está de volta. Turu bom com vocês? Espero que sim -w-

Dois capítulos em um mês? Tá certo isso? Seráse Nathy está voltando a ativa???

Só o tempo dirá uwu

Enfim, queria avisar vocês que é bem capaz que eu troque o nome do Utay e do Usawa. Why? Bom, Sawa e Usawa são muito parecidos, obviamente, e Utay e Usawa fica ainda pior porque os dois tem U no começo. 

Então, minha ideia é trocar o nome do Usawa pra Utay e trocar o nome do Utay pra Sawa. Eu vou rever o capítulo que eles aparecem depois pra fazer a troca, vocês vão ver mais pra frente e.e'



Traduções: 

La Reina pidió silencio - A Rainha pediu silêncio


Por hoje é só. Espero que tenham gostado. Um beijo da Nathy, fiquem com Kami e bye -3-

quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Roar from Within: Contos de Anida [Cap. 6 – O Conselho]

Endra e Laken voltaram para o reino sendo seguido pelas três filhotes. Os leões do reino os encaravam desconfiados mas Endra os ignorou, passando de cabeça erguida por eles e seguindo em direção à caverna. Assim que chegaram a caverna, Endra solta um rugido de chamado, que ganha a atenção dos reis e patrulheiros que estavam na floresta.

— Isso deve servir por enquanto — Endra murmura, sorrindo para Laken que, agora, estava deitado e brincando com as filhotes. 

Não demorou muito para que o grupo de patrulha voltasse com Habi e Thadi na liderança. Endra sorriu ao vê-los e se aproximou.

— Aconteceu alguma coisa, Endra? — Habi a encara preocupada.

— Bem, acontece que eu encontrei nosso forasteiro — a princesa sorri tímida e se vira para mostrar Laken e as filhotes. — Laken e eu nos conhecemos quando ele morava em Wishar. 

O dito leão, que agora se aproximara, faz uma reverência que Endra só pode descrever como exagerada. — Majestades, peço perdão por ter me escondido na floresta e imploro para que poupem a vida desse pobre nômade miserável — Endra o encara em choque. Sabia que Laken era dramático mas não esperava que fosse tanto assim.

Habi pigarreia, ainda surpresa pelo apelo do mais novo. 

— A-Ahm… É-é claro que sua vida será poupada — a leoa dourada, após recuperar a compostura, sorri gentilmente. — Afinal, não fez nenhum mau a nossos filhos, é justo que não façamos mau a você. 

Laken sorri agradecido, finalmente relaxando sua postura. 

— Laken encontrou as filhotes na floresta, perto da fronteira de Dugani. A mãe delas estava morta — Endra suspira.

Habi e Thadi trocam olhares breves. — Alguns tigres disseram ter visto o corpo de uma leoa. Estava totalmente desfigurado, não acham que um leão tenha feito isso — o rei comenta.

— Você e as filhotes são mais que bem-vindos para ficar, Laken — Habi completa.

— Temo que não possa ficar por muito tempo, majestade — o mais novo começa, franzindo levemente a testa. — Apenas alguns dias, no máximo. A mãe das filhotes era conhecida minha e, se puder, gostaria que elas ficassem sob os cuidados de uma das leoas do reino. 

— É claro. Querido, leve o grupo de patrulha para descansar, sim? — A rainha começa, fazendo uma breve pausa enquanto olha para o marido. — Eu cuido da madrinha das filhotes. 

Thadi apenas confirma com a cabeça, se preparando para sair. 

— A-ah, e chame Adanna e Hakuwa, por favor — ela abre um sorriso terno para o parceiro, que retribui e se retira. Assim que Thadi e o grupo de patrulha estão longe, a expressão de Habi, outrora pacífica, fica séria. — Espero que não tenhamos problemas com você aqui, Laken. Estamos todos uma completa pilha de nervos e a notícia de que meus filhos estavam conversando com um forasteiro nos deixou ainda mais nervosos. — Laken engole em seco. Não fazia ideia de que Hakuwa e Adanna eram os príncipes de Anida afinal, o leão nunca se envolvia em política de reinos e os filhotes nunca se incomodaram em falar. — Endra, conto com você para mostrar o reino para Laken, apesar de ter a estranha suspeita de que ele já conhece boa parte daqui. Apenas traga-o de volta. Temos muito a discutir.

Endra sorri e segura a risada ao notar o desconforto de Laken. — É claro, tia Habi. 

Habi relaxa as expressões faciais. — Tenha uma ótima estadia, Laken — e com isso, Habi se afasta, deixando os dois jovens sozinhos.

— Ela te adorou — Endra solta uma risadinha. 

— Você acha? Parecia que ela queria me ver morto e ter minha linda cabecinha empalada na fronteira do reino como aviso — Laken estava incerto sobre o comentário da amiga.

— Confie em mim, ela já o teria matado se não tivesse gostado de você — Endra sorri e Laken engole em seco novamente. — Vamos, vou te apresentar o reino! — Endra exclama entusiasmada. Ela logo nota uma leoa se aproximando deles. — Heh, parece que a madrinha das filhotes foi arranjada.

A leoa sorri ao passar por eles e se aproxima cuidadosamente das filhotes, as cheirando e logo as lambendo. Laken observa a interação com um pequeno sorriso.

— Vamos, elas estão em boas patas — Endra assegura, passando o braço em volta dos ombros de Laken, o abraçando.

Ele solta um suspiro baixo e confirma com a cabeça. Não demora muito para os dois se afastarem da caverna.

Endra é meticulosa ao apresentar o reino para Laken. As patas da princesa gesticulam animadamente enquanto ela falava parando ocasionalmente para soltar um ou outro comentário. 

É claro que, conforme o combinado com Habi, ela o tinha levado de volta para a Rainha, os deixando a sós. 

— Laken, caminhe comigo, sim? — Habi pede, sorrindo educadamente para Laken enquanto o guia pelos arredores da caverna.


[…]


O silêncio entre Habi e Laken era quase ensurdecedor enquanto os dois caminhavam.

O vento soprava uma brisa gentil na juba de Laken, algumas folhas voando sob o queixo dele o fazem erguer a cabeça e seguir as folhas com o olhar.

— Temos nossos receios com forasteiros, Laken — Habi começa, o tom dela baixo, quase calmo até demais. — E, como você sabe, todos os reinos tem suas regras. Regras que servem para manter o equilíbrio e a paz.

Laken confirma com a cabeça. — Sim, eu sei disso, majestade.

— Então espero que entenda que eu não levo ameaças a Anida como uma brincadeira — o tom de Habi é afiado. — Mkuu sabe quanto tempo você passou na floresta, então, estou te dando o benefício da dúvida. 

Habi para de andar e gesticula para os filhos dela, que assistiam a interação dela e Laken alguns metros a frente. 

— Meus filhos me disseram que posso confiar em você — ela diz, os olhos vermelho rubi se estreitando. — Por hora, meu julgamento será adiado. 

— Obrigado, majestade — Laken faz uma reverência. — Sua generosidade não será ignorada.


[...]


Já faziam cinco dias desde que Majira e Vuli partiram para anunciar a chegada dos reis em Rivalon. As duas provaram, em seus treinamentos com Wonaji, terem bastante habilidade e velocidade, então foram promovidas a Mensageiras. Habi, Thadi e Endra estavam se organizando para a viagem, aguardando o retorno das mensageiras. Laken serviria como guarda-costas de Endra, Nyusi acompanharia a Rainha em seu último voo antes da aposentadoria, Kamilla iria como Conselheira Real e Askari como guarda-costas dos reis. A viagem até Rivalon duraria três dias de ida e três de volta, as duas jovens leoas chegariam sãs e salvas em Anida em seis dias. 

Os primeiros raios da manhã iluminavam Anida. Habi foi a primeira a levantar, tendo sido acordada por um Nyusi desesperado a chamando. 

A leoa acordou o parceiro e correu para fora da caverna, vendo, quase imediatamente, uma Vuli completamente machucada e ensanguentada, carregando o corpo inconsciente e igualmente machucado de Majira.

A rainha ruge, acordando todos os leões do reino, e corre para ajudar a adolescente que, agora, praticamente se arrastava com o peso nas costas. — Vuli, o que aconteceu?! — Habi se esforça para colocar Majira em suas costas.

— F-foras-… — Vuli cai no chão, completamente exausta. — Forasteiros, eles… Majira… Ataque…

Kinga não demorou para aparecer atrás de Habi. Com cuidado, a curandeira colocou Vuli em suas costas e encarou Habi com preocupação. — Vamos levá-las para a caverna — foi a única resposta da rainha.

Kinga concorda com a cabeça e as duas, seguidas por Wonaji e Kamilla, vão para a caverna das curandeiras.


[…]


A viagem a Rivalon foi adiada. Majira ainda estava inconsciente e Vuli estava traumatizada demais para contar o que aconteceu com as duas. A adolescente apenas disse que foram atacadas por quatro leões, o resto não passava de um borrão para ela.

Era a madrugada do segundo dia de coma quando Majira começou a acordar. Os eventos da viagem encheram a cabeça da leoa e ela só conseguia gritar, acordando Vuli e algumas curandeiras.

Kinga foi a primeira que parou do lado da mais nova, a consolando.

— Majira, ei- Ei, está tudo bem! — A voz tranquilizadora da leoa acalmou Majira. — Você está em Anida, está a salvo.

— E-eles… Eles… — a mais nova estava hiperventilando e se agarrou a Kinga, abraçando a mais velha e chorando em seu pelo. — F-foi tão horrível!

Kinga, em resposta, abraça a mais nova e começa a cantarolar. — Já passou, não foi culpa sua. — Kinga passa a pata gentilmente pelas costas de Majira, ganhando um soluço estrangulado da mais nova em resposta. Kinga olha de relance para Vuli, que soltava pequenas lágrimas enquanto estava encolhida. Instintivamente, Kinga estendeu o braço livre, chamando Vuli para o abraço. A jovem leoa praticamente voou para os braços de Kinga. — O monstro se foi, ele fugiu. Kinga está aqui — as palavras suaves da leoa começaram a entrar pelos ouvidos das mais novas e elas se acalmaram. — Minhas lindas, lindas, lindas, lindas meninas.


[…]


Algumas horas haviam se passado desde que Majira teve se ataque de pânico e o sol estava subindo. Vuli e Majira passaram a noite consolando uma a outra com a ajuda de Kinga. 

Habi as visitou com frequência conforme o dia se arrastava, tentando tranquilizá-las o máximo possível. A rainha sabia que, seja lá o que tenha acontecido com elas, as traumatizou horrivelmente. 

— O que acha que aconteceu, tia Habi? — Endra se aproxima da mais velha, que estava fora da caverna principal observando o nascer do sol. 

— Sinceramente, Endra, não faço a mínima ideia — Habi suspira, franzindo a testa. — E não sei se quero saber. O trauma é algo que elas carregarão para sempre, não quero colocá-las em ainda mais estresse — Habi olha brevemente para o chão com um olhar pensativo. — Enviei um pássaro para Rivalon para saber se eles tem noção do que pode ser. O pássaro deveria voltar hoje a tarde — outro suspiro. — Não… Não devia tê-las mandado. Devia ter mandado alguém experiente, talvez até um guepardo.

— Não foi culpa sua, tia Habi. Você não sabia que isso iria acontecer — a adolescente coloca a pata no ombro da mais velha e sorri. — Tenho certeza que Majira e Vuli não a culpam por isso. 

Habi não responde, ainda tensa e preocupada com o que aconteceu com as duas adolescentes. Queria perguntar-lhes o que acontecera durante a viagem, se foram atacadas na ida ou na volta, como eram os leões as atacaram e, por mais que a curiosidade estivesse comendo a Rainha por dentro, ela se manteve paciente.


[…]


No dia seguinte, Habi mandou um falcão para avisar que ela e sua caravana estariam em Rivalon em breve. A ave mensageira do dia anterior tinha retornado com a notícia de que não só residentes de Rivalon não sabiam o que tinha acontecido, como também sequer sabiam dos forasteiros. 

A rainha, Thadi, Kamilla, Kinga, Askari, Endra e Laken estavam se preparando para a viagem até Rivalon. A jovem princesa estava deveras ansiosa, não visitava Rivalon desde que era filhote. 

Apesar da ansiedade percorrer suas veias, Endra manteve a compostura – assim como sua mãe havia lhe ensinado –, enquanto saía da caverna.

“Uma princesa sabe controlar suas emoções, Endra” era o que sua mãe havia dito. E Endra sabia que ela estava certa, Fadhili sempre sabia de tudo. E a princesa sentia falta dela.

O coração da leoa jubada se aperta ao lembrar dos pais. A mente dela não conseguia registrar como eles tinham morrido e, se fosse bem sincera, Endra acreditava que seus tios tivessem envolvimento nisso.

— Endra? — Vem a voz de Wonaji, a tirando de seus devaneios. A leoa mais velha tinha se oferecido para mentorear Endra e a mais nova aceitou de bom grado. — Está na hora, querida. Está pronta?

Endra confirma com a cabeça, virando o rosto para encarar a leoa de pelo claro, notando a bolsa de pele de cobra e cipó que a leoa carregava no ombro. — Sim, desculpe. Faz tempo que não visito Rivalon, estou ansiosa.

Wonaji abre um sorriso terno para a mais nova. 

— Tenho certeza que a Rainha Nadia vai adorar revê-la — Wonaji passa um braço em volta dos ombros de Endra, a abraçando de forma reconfortante. — E quem sabe você não se dá bem com os adolescentes de lá, hm? Ouvi dizer que os jovens de Rivalon são encantadores.

Endra solta uma risada nervosa, que Wonaji atribui ao nervosismo da viagem. Apesar de saber que Wonaji não a julgaria por suas escolhas e preferências, Endra ainda não se sentia confortável compartilhando com a mais velha sobre sua sexualidade.

As duas descem pelo amontoado de pedras que servem como escadas para a caverna real, diminuindo o passo quando veem Habi e Thadi próximos ao limite do reino, se despedindo de Adanna e Hakuwa, assim como de outros membros do reino.

— Quem vai ficar no comando do reino enquanto estivermos fora? — Endra indaga com a sobrancelha arqueada. A juba da leoa balançava ligeiramente com a brisa, lhe dando um ar mais etéreo.

— Kweli e eu — Wonaji responde. — E Thadi vai voltar mais cedo também. Habi ainda não escolheu definitivamente quem vai ser o conselheiro real dela, Kamilla vai apenas como cortesia, mas ao que tudo indica, é provável que seja uma das fêmeas.

Endra confirma com a cabeça com a explicação, seguindo Wonaji para a fronteira do reino, onde os outros já aguardavam.

— Todos prontos? — Vem a voz de Habi, que sorri com a chegada de Wonaji e Endra.

Os outros leões confirmam e Habi respira fundo, ganhando uma lambida afetiva de Thadi na bochecha. O rei, apesar de não ser muito falador, deixava claro que amava sua esposa com pequenos gestos de carinho.

— Cuidaremos de tudo enquanto vocês estão fora, tia Habi — Kweli se aproxima, esfregando a cabeça carinhosamente contra a bochecha de Habi. — O reino está em boas patas. Kirafiki vai ajudar a manter todos na linha.

Ao ser mencionada, Kirafiki dá um aceno firme com a cabeça, que Habi retribui com um aceno simples. 

— Tomem cuidado — Wonaji diz, se aproximando de Kinga e abraçando a amiga, o rosto da leoa se erguendo para dar um olhar significativo para Askari, que concorda brevemente com a cabeça. 

Hakuwa e Adanna abrem sorrisos tristes, ambos lado a lado dos pais. Os pequenos sabiam que Habi e Thadi voltariam logo, mas já estavam com saudades.

— Vamos sentir saudades — Adanna murmura, as patinhas dela se envolvendo ao redor da pata de Thadi. Ela olha para cima com carinho, encarando os olhos verde água do pai. — Boa viagem.

Thadi abre um sorriso pequeno antes de envolver a pata dianteira livre ao redor dos ombros de Adanna. — Voltaremos em breve, prometo.

Um pouco mais afastados estavam Kinga e Elimu. O filhote abraçava a pata da mãe com força.

— E-eu quero ir com vocês, mamãe — o pequeno resmunga, seus olhinhos brilhando com lágrimas não derramadas. 

— Eu sei, meu amor, e sinto muito por não poder te levar — Kinga tenta reconfortar o filho. — A viagem vai ser cansativa, meu príncipe. Não podemos arriscar com sua saúde. 

O filhote confirma com a cabeça antes de se esfregar contra a pata da mãe e se juntar a Hakuwa e Adanna.

Os filhotes de Kamilla, por outro lado, não tinham sido vistos, trazendo uma expressão tristonha para o rosto da leoa.


[...]


A viagem para Rivalon tinha sido exaustiva mas gratificante. 

Os primeiros raios de sol do último dia de viagem acariciam os pelos dos viajantes quando eles terminam de atravessar a ponte de pedra que faz ligação com Rivalon.

Habi abre um sorriso cansado e Nyusi, que descansava no ombro da rainha, alça voo na direção da caverna real. 

O grupo para na fronteira, alguns passos depois da ponte, e esperam. 

Não demora muito para uma leoa com a pelagem clara e marcas marrons nas patas se aproximar, seguida de um leão de juba cobre e pelo puxado para o dourado com manchas pretas nas patas dianteiras e traseiras.

Os olhos roxos da leoa carregavam sabedoria e gentileza, um sorriso sereno agraciava suas feições. O leão atrás dela, apesar de mais novo, era mais sério, mas tinha um sorriso convidativo.

— Habi — a leoa faz uma reverência breve. — Você está tão linda, querida.

— Rainha Nadia — Habi retribui a reverência e Nadia leva as patas aos ombros da leoa mais nova, segurando-os gentilmente antes de puxar Habi para um abraço apertado, que Habi retribui de bom grado.

— Os outros já estão pra chegar — Nadia anuncia, separando o abraço e sorrindo para os outros membros do grupo. — Por favor, sintam-se em casa. Nidijo, querido, poderia...

Antes de Nadia terminar a frase, o focinho de Nidijo se contorce em um rugido, anunciando a chegada do grupo de Anida.

— Rainha Nadia, é um prazer revê-la — Kamilla se aproxima, mostrando um sorriso que não alcança os olhos de Nadia.

Nadia lança um sorriso educado na direção da leoa mas não diz nada. A rainha, por mais educada e gentil que fosse, podia sentir o cheiro de bajulação a uma milha de distância.

Sem contar que Nadia, por algum motivo, sentia grande apatia por Kamilla. A leoa cheirava a encrenca e Nadia não gostava nem um pouco dela.

— Trouxemos...alguém especial conosco também — Habi dá espaço, deixando Nadia ver Endra, que abre um pequeno sorriso.

— Olá, tia Nadia — a mais nova cumprimenta com um sorriso tímido.

Os olhos de Nadia brilham antes de ela soltar um gritinho animado e correr para abraçar Endra.

— Minha nossa, como você está crescida! — Nadia exclama, se afastando para admirar Endra. — E sua juba, tão estilosa. Ah, minha querida, você está tão deslumbrante!

Endra solta uma risadinha, as bochechas da leoa se enrubescem com os comentários da mais velha.

— Você me lisonjeia, tia Nadia — Endra ri levemente. — Ah, onde estão nossos modos? Tia Nadia, Nidijo esses são Kinga, Askari e Laken. Tio Thadi, tia Habi e Kamilla vocês já conhecem.

— É um prazer conhecê-los — Nidijo sorri. — Por favor, sigam-nos. A reunião será ao entardecer.

Nidijo e Nadia guiam o grupo reino a dentro. 

Alguns reis e rainhas já estavam chegando de viagem. Os tios de Endra não estavam entre eles até o momento.

O dia se arrastou lentamente, com Nidijo e Nadia correndo de ponta a ponta de Anida para cumprimentar os recém chegados.

Já na caverna, quando o sol começou a se pôr e trazer o céu alaranjado, os leões se reuniram. 

Nidijo pigarreia antes de soltar um rugido alto, chamando a atenção de todos para ele e Nadia, que estavam em uma elevação rochosa.

— Obrigada, Nidijo — a mais velha sorri agradecida para o filho antes de voltar a atenção dela para os outros. — Gostaria de saudar a todos os que puderam comparecer. 

Endra olha em volta, os olhos dela pousando em um pequeno grupo de leões, uma delas tinha algo vermelho no pescoço e era estupidamente grande para uma leoa que parecia tão nova. 

A princesa jubada estava sentada ao lado de Thadi e Habi, e pinturas simples feitas com tinta lilás adornavam seu rosto. 

Ela não podia ver os tios na multidão e, se fosse sincera, Endra não queria vê-los. 

— Temos notícias...pouco satisfatórias, para dizer o mínimo — Nadia continua, a voz dela carregando um tom de preocupação. — Rainha Habi?

Ao ser chamada, Habi se levanta e caminha até o centro da caverna, se sentando na frente da elevação de Nadia e Nidijo.

— Saudações a todos — Habi faz uma breve reverência. — Como sabem, as notícias por Anida correm soltas e, alguns dias atrás, a Princesa Endra, de Wishar, filha da finada Rainha Fadhili e do finado Rei Heshima, chegou em nosso reino. 

Os curiosos olhos dos leões se voltam para Endra, que mantém o queixo erguido apesar do turbilhão de emoções em seu rosto.

— Fadhili e Heshima morreram?! — Uma leoa, de pelo claro e manchas marrom escuro pelo corpo e rosto, exclama com indignação. 

— Rainha Hadassah — Endra cumprimenta a leoa com uma reverência, se aproximando do centro da caverna e parando ao lado de Habi. — Sim, meus pais...meus pais estão mortos.

Um burburinho começa, sussurros indignados circulando pela caverna. 

— Silêncio, silêncio! — Nadia exclama, o burburinho cessando imediatamente. O olhar simpatético da mais velha encontra o de Endra. — Prossiga, querida.

— Ao invés de seguirem a tradição e me permitir ascender ao trono, meus tios me exilaram — Endra explica, a voz da mais nova falhando. — Querem que meu primo Hasi seja coroado ao invés de mim. E...eu tenho motivos para acreditar que eles estejam por trás da morte dos meus pais.

Mais sussurros começam e as orelhas de Endra se achatam contra a cabeça dela.

— Como vocês sabem — a princesa continua depois de pigarrear —, Wishar é um reino conhecido por suas plantas e ervas medicinais — a expressão de Endra fica séria. — Uma das plantas mais comuns de lá é a Gloriosa Superba, altamente venenosa tanto ao tocar quanto ao ingerir. 

Os leões ficam atônitos com a revelação. 

— Isso é uma acusação muito séria, sobrinha querida — uma voz feminina diz da entrada da caverna. Os olhos de todos se voltam para Ananda, que estava sendo seguida para dentro por Dhalimu e mais dois leões, um de pelagem escura e um de pelagem mais clara. — Por que não compartilha o que aconteceu no dia de seu exílio?


[...]


Em Anida, a tensão entre Hakuwa, Adanna, Amadi e Udadisi era alta. 

Amadi, nesses poucos dias, tinha conseguido irritar os príncipes e os outros moradores de Anida com facilidade. Sem a presença constante de Kamilla, Amadi e Udadisi não precisavam se mostrar como os filhos perfeitos.

— Ora, Hakuwa, por que tão irritadinho? — Amadi provoca, um sorriso convencido no rosto dela enquanto ela ri ao encarar um Hakuwa encharcado e carrancudo saindo do lago. — Foi apenas um sustinho. Não acredito que caiu nessa.

Hakuwa a encara com uma expressão irritada, mas não diz nada, chacoalhando o corpo e propositalmente jogando água em Amadi.

Tinha sido um dia bom para o pequeno príncipe até Amadi e Udadisi começarem as provocações, deixando Kiny no escuro sobre as travessuras que os irmãos aprontavam. Para o filhote mais novo, os irmãos eram tão santos quanto Mkuu.

— Por Mkuu, Hakuwa, o que aconteceu?! — Kweli pergunta ao se aproximar, a expressão dela preocupada. 

Para o infortúnio de Hakuwa, a prima não o tinha testemunhado ser assustado por Amadi enquanto tomava água e cair na água.

— Eu vim perguntar para ele quando ele estaria livre para brincar — Amadi se pronuncia, a expressão dela se transformando em uma de falsa simpatia. — Mas Hakuwa se assustou e caiu no lago. Sinto muito, Kweli.

Kweli franze a testa, puxando Hakuwa contra a pata dela. — Está tudo bem, Amadi. Tenho certeza que foi sem querer — a mais velha pega Hakuwa pelo couro do pescoço e o leva para a caverna, sentindo o corpo de Hakuwa tremer com o vento gelado.

Assim que chegam na caverna, Kweli põe o primo no chão, ao lado de Kumi. 

— Haku? — Kumi inclina a cabeça em confusão. 

— Okay, o que aconteceu? — Kweli pergunta, se deitando puxando Hakuwa para o meio de suas patas, usando a língua para secar o filhote com o máximo de suas habilidades.

Hakuwa solta um suspiro derrotado. A testa do filhote estava franzida em uma carranca. 

— Qual é o problema da Amadi? — Ele resmunga. — Somos todos legais com ela e os irmãos, sempre tentamos incluir Udadisi, Kiny e ela, mas na maioria das vezes, somente Kiny se junta nas brincadeiras.

Kweli solta um "mhm" enquanto ouve os resmungos do pequeno, o esperando continuar. 

— Ela chegou de mansinho e gritou — Hakuwa explica. — Eu me assustei e caí no lago. 

— Vai ver ela gosta de você — Kumi solta, rindo com a própria piada.

— Não é assim que se demonstra gostar de alguém, Kumi — Kweli retruca, rindo levemente. — Você só vai afastar quem você gosta desse jeito.

Kumi franze a testa.

— E como se demonstra então? — Pergunta confuso.

Kweli para de lamber a bochecha de Hakuwa por um momento. O rosto da leoa toma uma expressão pensativa.

— Bem, se você conhece bem a pessoa que você gosta, como o tio Thadi e a tia Habi, você percebe pelos olhos — Kweli explica. — Os olhos são as janelas da alma. Prestem bastante atenção ao tio Thadi e a tia Habi quando eles estão olhando um para o outro. Vocês vão ver, o jeito que eles se encaram é...de puro amor e adoração.

— Mas e quando você não conhece bem a pessoa? — Hakuwa se intromete. — Quando vocês acabaram de se conhecer e, eu não sei, você sente atração primeiro? Ou quando você está gostando da pessoa ou a pessoa está gostando de você?

— Está perguntando por causa da Akili? — Kumi provoca, suas sobrancelhas se erguendo sugestivamente.

Hakuwa cora. — O-o que?! É claro que não! — Protestou. — Foi só uma pergunta!

Kweli ri com a provocação.

— Bem, é fácil saber quando você está gostando de alguém — Kweli deixa Hakuwa sair do meio das patas dela e se deita em uma posição mais confortável. — Você...fica mais distraído, mais aéreo. Suas pupilas dilatam, você suspira para o nada e seu olhar simplesmente...amolece. É difícil de explicar.

— Pff, não se você presta atenção aos que estão ao seu redor — Kumi resmunga enquanto revira os olhos. 

— Ei, o que isso quer dizer!? — Hakuwa exclama indignado, ganhando uma risada de Kweli e Kumi.


[...]


A tensão na caverna era alta com as palavras acusatórias de Ananda. 

— O que aconteceu com Chaga naquele dia não foi culpa minha — Endra estreita os olhos. 

— E ainda assim, ele quase perdeu a vida — Dhalimu retruca, a voz dele saindo em um rosnado.

— Não vamos nos exaltar — o leão de pelagem mais clara se pronuncia, se aproximando e se pondo diante de Endra, se virando para encarar Ananda e Dhalimu. — Papai, o exílio de Endra foi errôneo e todos sabem disso. Chaga não deveria tê-la seguido para o exílio e vocês deveriam estar de olho nele.

— Hasi, seu isolente! —  Ananda grita, a pata dela erguida e prestes a acertá-lo. 

Os outros leões se levantam de suas posições sentadas para intervir, mas Nadia é a primeira a pular de sua elevação e se pôr entre o Hasi e Ananda. Os olhos da mais velha brilhavam com desafio, esperando que Ananda ousasse tocá-la na frente dos outros.

Ananda hesita, a testa dela franzindo enquanto encara a rainha diante dela, abaixando a pata.

— Estão aqui como convidados, Ananda — Nadia põe ênfase na frase, dando passos para trás antes de voltar para a elevação e se sentar novamente ao lado do filho. — Erga sua pata novamente e nenhum de nós será clemente. Façamos uma pausa por enquanto — ela continua. — Todos fizeram uma longa viagem até aqui. Voltaremos quando as estrelas começarem a aparecer.


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OLÁ TERRÁQUEOS SAUDAÇÕES )0)

Sua alienígena favorita está de volta. Turu bom com vocês? Espero que sim -w-

Oof, quase dois anos sem postar, né e.e'

Perdão. Errei, fui moleca ✊😔

ENFIM, capítulo editado. Capítulo longo. Capítulo com suspense. Me. Idolatrem.

Bom, esse capítulo ~assim como muitos outros, mas a gente releva~ era pra ser postado em 2022. Mas a vida aconteceu e tudo ficou corrido pra mim.

ANYWAYS... Se vocês virem um Habibs perdido por aí...não, vocês não viram.

Por hoje é só. Espero que tenham gostado. Um beijo da Nathy, fiquem com Kami e bye -3-

domingo, 29 de janeiro de 2023

Conheça a Personagem [Kisai]

OLÁ TERRÁQUEOS, SAUDAÇÕES )0)

Sua alienígena favorita está de volta. Turu bom com vocês? Espero que sim -w-

Esse post era pra ter saído em novembro do ano passado mas, né e.e' 

O número sorteado da vez foi o 32, ou seja, o número da nossa queridíssima Kisaaaaai. Palmas pra ela, gente. Palmas pra ela u-u

Bem, vejamos as versões antigas dela:



Gzuis Cristo, uma emo ._.

Cahem, vamos para a versão atualizada dessa neném...




AI CALICA, KISAI TÁ MARAVILHOSA )0)

° |Básico| °

Nome: Kisaikolojia (Quisaicolodjia)

Significado: Psicopata (Suaíle)

Apelido: Kisai

Idade: 7 a 12 anos humanos (durante a primeira temporada); 13 a 18 anos humanos (durante a segunda temporada)

Espécie: Leoa; subespécie Leoa Asiática com genes de Tsavo.

Gênero: Feminino (MtF)

Pronomes: Ela/Dela

Sexualidade: Demissexual

° |Personalidade| °

Kisai é uma leoa séria e um pouco paranoica, sempre desconfiando da intenção dos outros. Sempre desconfia de desconhecidos até que provem não ser uma ameaça para ela e sua família.

Citação pessoal: “Se visse o que eu vivi, teria raiva sim.”

Gosta: Caçadas e estratégias, observar os arredores e aprender novas técnicas de combate. Lugares escuros, os olhos dela são sensíveis a luz.

Não gosta: Sentir-se encurralada ou presa.

Qualidade: É boa caçadora e observadora. Suas técnicas furtivas chegam a ser melhores que a de caçadoras experientes.

Defeito: É desconfiada da própria sombra.

Medo: Perder quem ama. Apesar do exterior frio, essa neném é muito protetora com quem ama.

° |Relacionamentos| °

Pais: Rainha Ariana e Rei Wiba, de Dugani

Irmãos: Akili (mais velha; mesma ninhada) e Anasa (caçula)

Filhos: Maji e Liaji

Interesse romântico: Hasa

° |Cargo| °

° Buscadora

° Guerreira

° Plebeia

° Nobreza

° |Curiosidade| °

As cores da chamativas Kisai, tanto na versão antiga da história, quanto nessa, são as cores da Ender Dragon. Não importa quantos fandoms você abandone, alguns deles sempre voltam pra te assombrar. Fato aleatório, Kisai é uma leoa trans e tanto seu nome quanto o de Akili e companhia são variações de seus nomes originais.

° |História| °

Apesar de ainda estar em desenvolvimento e revisão constante, a história de Kisai já estava predefinida. Em resumo, boa parte da história está resumida no primeiro capítulo de Anida mas, para recapitular, Kisai e Akili foram sequestradas quando filhotes e submetidas a testes de produtos químicos em um Centro de Pesquisas. Nesse centro, elas conheceram suas amigas e eventualmente, duas humanas as soltaram e elas acabaram no reino. Eventualmente, com o decorrer da história, ela e Akili reencontram os pais.

          

Prontinho, cá está mais uma pra lista uwu

Por hoje é só. Espero que tenham gostado. Um beijo da Nathy, fiquem com Kami e bye -3-

quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

Conheça a Personagem [Elimu]

OLÁ TERRÁQUEOS, SAUDAÇÕES )0)

Sua alienígena favorita está de volta. Turu bom com vocês? Espero que sim -w-

Bem, o gerador de número disse, então aqui está nosso próximo personagem, o número nove da lista, Elimu! UwU

Na versão original da história, Elimu se chamava Gus. Ele era um filhotinho verde-musgo e, acreditem ou não, as cores dele eram baseadas nas cores do Springtrap. Quer dizer, as cores do corpo dele, as cores do olho acabei esquecendo de mudar e deixei na cor da base, então viraram cores “canônicas”, isso aconteceu tanto ara o pobre do Elimu quanto para os outros personagens :v

Versões antigas do Elimu:



Pelos Reis, o que eu tinha na cabeça para escolher essas cores? E o pior de tudo é que o Kumi e o Elimu não eram os únicos ;_;

Enfim, a nova versão dele está mil vezes melhor:



ELE É UM COMPLETO NENÉM, GENTE )0)

° |Básico| °

Nome: Elimu

Significado: Educado (Suaíli)

Apelido: Eli, Limu, Docinho

Idade: 7 a 12 anos humanos (durante a primeira temporada); 13 a 18 anos humanos (durante a segunda temporada)

Espécie: Leão; subespécie Leão do Cabo.

Gênero: Masculino

Pronomes: Ele/Dele

Sexualidade: Hétero

° |Personalidade| °

Um leão brincalhão e destemido, Elimu sempre tenta ver o lado bom nas coisas. Apesar de seu receio conhecendo criaturas novas, ele faz o possível para que todos se sintam confortáveis.

Citação pessoal: “Podem ir sem mim, vou ficar observando.”

Gosta: Inventar brincadeiras novas, passear com a mãe.

Não gosta: Valentões (quem diria, não é Wama? ¬¬)

Qualidade: É bom com rastreamento e um ótimo observador.

Defeito: Tem tosse de fumante :v

Medo: Ser usado.

° |Relacionamentos| °

Pais: Kinga (mãe adotiva)

Irmãos: Nenhum

Filhos: A ser desenvolvido

Interesse romântico: Wama mas, visto que ela é escrota com todos, é capaz que Elimu fique solteiro por um tempo.

° |Cargo| °

° Buscador

° Rastreador

° Plebe

° |Curiosidade| °

O Leão do Cabo ou Leão Negro é uma espécie que foi declarada extinta em 1860 e receberam esse nome por causa da juba negra dos machos. São leões com instintos solitários e foram extintos por humanos quando se tornaram uma ameaça e os leões da região de Kalahari são considerados como tendo carga genética dessa subespécie. É por isso que, na história, Elimu vive doente quando filhote. Ele, a mãe biológica e alguns leões de Mauaji são os últimos leões dessa subespécie e, por ter genes mistos, eles vão ser mais propícios a doenças. Fato aleatório, Elimu tem as cores do Springtrap, de FNAF. Você pode abandonar o fandom, mas o fandom não abandona você, eu acho :v

° |História| °

Elimu foi o fruto de um relacionamento forçado e sua mãe biológica, com desgosto do filhote, o abandonou à própria sorte na esperança de que ele morresse. Para a sorte de Elimu, Kinga o encontrou e Habi se tornou sua madrinha. Ele foi adotado por Kinga pouco tempo depois de aprender a andar e sua mãe biológica nunca foi encontrada. Elimu passou a maior parte de seus dias da infância na companhia de Kinga e Habi. Ele raramente podia brincar com os outros filhotes, pois se cansava facilmente e tinha sérias crises de tosses constantes, resultando em sua rouquice. Sua saúde começou a melhorar depois que Wonaji começou a cuidar da saúde de Elimu com a ajuda de ervas medicinais.


          

Bom, essa postagem era pra ter saído na mesma época que a postagem sobre o Kumi... Oh, well. Antes tarde do que nunca, não é?

Por hoje é só. Espero que tenham gostado. Um beijo da Nathy, fiquem com Kami e bye -3-