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sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Roar from Within: Contos de Anida [Cap. 7 – A Decisão do Conselho]

Após as palavras de Nadia, a tensão na caverna começa a se dissipar. 

Os outros leões, que há tempos não se viam, se levantam para se cumprimentar e conversar uns com os outros. 

Hasi é rápido em se virar e ir até Endra, puxando a princesa para um abraço. — Ficou maluca de vir aqui? — Ele pergunta num tom preocupado.

— Ora essa, Hasi. Eu devia estar te perguntando a mesma coisa — Endra retruca rindo levemente. — O que veio fazer aqui?

— Bem, tecnicamente, agora faço parte do Conselho — ele explica. — Depois que mamãe e papai te exilaram, começaram a encher meus ouvidos sobre o que eu devia ou não fazer. 

Hasi solta um suspiro irritado. — Fizeram o coitado do Rahim me escoltar até aqui — gesticula com a cabeça para o leão escuro que tinha entrado junto com ele e seus pais. 

Endra concorda com a cabeça. Sabia o quão cabeça dura Ananda e Dhalimu podiam ser, principalmente quando se tratava dos primos dela.

Os olhos de Endra se iluminam brevemente. — Ah, Hasi, quero que conheça alguém — ela diz, guiando Hasi na direção de Habi e Thadi, que agora conversavam com um leão dourado de juba vermelha e ao que parecia, sua parceira e mais um leão de pelo alaranjado de juba preta, que estava carrancudo. — Tia Habi, esse é meu primo, príncipe Hasi.

Habi se vira ao ouvir a voz de Endra.

— Ah, Endra, querida — a mais velha sorriu educadamente, fazendo uma breve reverência para Hasi, que retribui. — Por favor, juntem-se a nós. Sarabi e Mufasa estavam nos contando das peripécias de seu filho.

— Peripécias? — Endra ri, se virando para Hasi com uma sobrancelha arqueada. — Puxa, ele me lembra alguém...

— Nosso pequeno Simba — a leoa – Sarabi – ri. — Ele está crescendo tão rápido. Mal conseguimos acompanhar.

— Está fazendo um bom trabalho, Sarabi — o leão de juba preta resmunga num tom entediado. — A bolinha peluda está crescendo como deveria. Você está se certificando disso. 

— Você me dá muito crédito, Scar — Sarabi revira os olhos, sorrindo agradecida.

— Apenas onde é necessário — Scar aponta, se levantando para se afastar. — Se me derem licença, tenho alguns assuntos para resolver. 

Os seis o observam sair e a testa de Endra se franze ligeiramente.

— Que bicho mordeu ele? — A princesa questionou.

— Não se preocupe — Mufasa tranquiliza com um sorriso pequeno. — Tak- Scar sempre fica mau humorado se não tomar café da manhã. Ele nem sempre foi assim. 

Hasi e Endra trocam olhares com a correção repentina de Mufasa, mas não comentam. Não era lugar deles se intrometerem nos assuntos de outro reino.


[...]


Com as primeiras estrelas se aparecendo no céu, Nadia ruge pra chamar a atenção dos leões presentes. Quando todos se reúnem novamente, ela e Nidijo se sentam na elevação rochosa.

— Habi, Endra, prossigam, por favor — a mais velha pede. 

— O conselho não foi reunido apenas para pedir justiça para a Princesa Endra — Habi começa, a testa da rainha se franzindo. — Temos uma questão mais séria em nossas patas.

Os leões ao redor começam a sussurrar entre si.

— Todos sabem que raramente pedimos reuniões de emergência graças aos nossos afazeres — Habi continua, a voz dela acabando com o burburinho. — Mas duas mensageiras de Anida foram atacadas a caminho de Rivalon. Duas adolescentes.

A tensão sobe rapidamente na caverna. Acusações são jogadas aos quatro cantos e palavras duras são trocadas.

— Ordem, ordem! — Nadia diz, as palavras da rainha caindo em ouvidos surdos.

Um rugido alto ecoa na caverna. Os olhos de todos se pousam em uma leoa de pelagem negra e olhos vermelhos, a mesma que Endra tinha avistado antes. 

O silêncio que vem após o rugido é quase tão ensurdecedor quanto o barulho do burburinho. 

La Reina pidió silencio — a leoa diz em um tom sério, ganhando alguns olhares confusos. 

Que tipo de dialeto era aquele?

— Façam...o que a moça gigante diz — uma leoa, já idosa, se pronuncia ao entrar na caverna com passos lentos e um tom divertido, sendo seguida por duas leoas mais novas, que se juntam aos leões sentados ao redor da caverna. A anciã solta uma risada divertida antes de continuar. — Ela tem um rugido e tanto, hm?

Os leões ao redor se curvam e Kinga abre um sorriso, correndo na direção da leoa para abraça-la.

— Vovó! — Exclama a amarronzada, o sorriso da leoa se alargando.

A leoa sorri em resposta, retribuindo o abraço da mais nova antes de se afastar. Kinga acompanha Waganga até o centro da caverna, retornando para se sentar ao lado de Kamilla junto dos outros leões.

— Vocês mais novos, sempre apressados — a leoa reclama, a voz dela contendo uma pitada de travessura. — Onde já se viu, começando o conselho sem todos os idosos presentes?

— Waganga — Hadassah cumprimenta, a testa dela franzindo. — Sabe que não pode viajar longas distâncias, sua velha teimosa. 

— E perder a chance de ver minha primeira e única neta? — Waganga retruca. — Nem que Mkuu me leve! 

Algumas risadas divertidas são ouvidas. 

Apesar da idade, Waganga continha o espírito brincalhão de uma filhote e todos sabiam do carinho imenso que a mais velha sentia por Kinga. 

— A morte está pairando pelos reinos — Waganga avisa, a voz da mais velha ficando séria. — Uma sombra que se alastra pelos reinos, tão pesada e espessa que me dá asco só de respirar.

— Do que está falando, sua velha gagá? — Dhalimu resmunga num tom zombeteiro. — Uma de suas aprendizes teve outra visão?

Os olhos de Waganga se estreitam na direção de Dhalimu. — Ananda lhe dá muito crédito para um rei consorte — ela diz ríspida. — Você e ela fedem a morte, a sangue inocente.

O sangue de Dhalimu e Ananda gela com a acusação da anciã. 

— Que patéticos — Waganga continua, dando passos de um lado para o outro no centro da caverna. — Fadhili e Heshima mal voltaram para o solo e vocês expulsaram a filha deles, princesa legítima do reino, por algo que sequer foi culpa dela. Patéticos. Patéticos, eu digo!

— Waganga está certa — Hasi comenta, se levantando para se aproximar de Waganga com um olhar determinado. — O que meus pais fizeram foi injusto com Endra. 

Chaga se aventurou no exílio por conta própria naquele dia, ele mesmo tinha admitido para Hasi. E por negligência e incompetência de Ananda e Dhalimu, Chaga tinha sido picado por uma aranha peçonhenta.

Quando Endra ouviu o grito agoniado do primo caçula, a mais velha correu para ajudá-lo, o carregando as pressas para as curandeiras.

Se a princesa não estivesse por perto, o destino de Chaga teria sido fatal. O filhote tinha o costume idiota de vagar sem rumo por aí, isso o trazia problemas na maioria das vezes.

— O garoto fala com sabedoria — a voz de Waganga tinha tomado um tom pensativo. — Temos em nossas patas, dois dilemas. Dois problemas definitivos — a mais velha se vira e lança um sorriso reconfortante para Endra. — Minha querida, por mais que a decisão de seus tios tenha sido brusca e ríspida, você ainda tem direito a opinar quanto sua estadia. Afinal, você é da realeza. 

Os leões ao redor rugem em concordância. 

— Princesa Endra, de Wishar, filha da finada Rainha Fadhili e do finado Rei Heshima — Nadia chama, convidando a mais nova a e pôr na frente do amontoado. — Como uma princesa, seu sangue real lhe dá o direito de ir e vir, governar ou abdicar do trono de seu reino.

Endra confirma com a cabeça, sabendo o que Nadia implicava com as palavras dela. 

— O Conselho está lhe dando a opção de permanecer no trono de Wishar — Nadia continua, suas patas dianteiras se erguendo como se pesasse o prós e contras nelas —, ou de abdicar do trono, o passando para o próximo na linha de sucessão, que nesse caso, é o Príncipe Hasi. 

— O Conselho não tem o direito de interferir nas decisões de um Reino! — Dhalimu protesta, dando um passo a frente.

— O Conselho tem o direito de interferir se a decisão for vista como injusta — Endra corrige, a atenção da leoa jubada se voltando para o tio. — E se o Conselho me considera digna de tal julgamento, quem sou eu ou você para questionar?

Dhalimu rosna e Ananda o puxa para trás, a testa dela franzida em irritação. 

Por mais que ela quisesse negar, Endra estava certa: o Conselho tinha sim o direito de interferir em decisões injustas tomadas por um reino. 

Endra limpa a garganta. — Eu, Princesa Endra, de Wishar — a princesa começa, a cabeça erguida —, abdico do trono de Wishar e o passo diretamente para o Príncipe Hasi. Salve o Príncipe! 

Endra ergue a pata e a bate no chão com um rugido. 

Os outros leões comemoram com rugidos enquanto Hasi, Ananda e Dhalimu encaram a princesa com expressões perplexas.

Ananda se aproxima da sobrinha com passos rápidos, ignorando a comoção. — Endra, tem noção do que fez?!

Endra a encara confusa.

— Você me queria fora do reino — a jubada sibila. — Hasi tem uma qualificação melhor para ser rei. Ele vai ser o futuro do reino.

— Sua pirralha ingrata! — Ananda grita. Os olhos rosados da leoa brilhavam com fúria e Endra dá um passo hesitante para trás. 

Pela primeira vez ela estava com medo da reação explosiva da tia.

A comoção diminui com o grito de Ananda.

— Não envenenei minha irmã para que você passasse o trono para Hasi! — Ananda, cega pela raiva, aumenta o tom de voz, as garras da mais velha a mostra enquanto ela tenta usar sua estatura para intimidar Endra. — Eu deveria ser a sucessora!

O silêncio se alastra pela caverna e só então Ananda percebe seu erro.

A leoa olha em volta e suas orelhas se achatam contra sua cabeça. Em vez de admitir seu erro, Ananda rosna, sua raiva voltando dez vezes pior direcionada a Endra.

Ananda avança rápido, se movendo para atacar Endra. 

Antes que ela possa, Rahim é rápido em pular e segurar a leoa pela nuca, a afastando de Endra, que agora se encontrava em estado catatônico enquanto Ananda se debatia numa tentativa falha de se soltar.

Outra comoção começa na caverna. Dessa vez, gritos de indignação e irritação com a atrocidade que saiu da boca de Ananda ecoam.

— Rahim, solte-a! — Dhalimu exclama, marchando na direção do leão que segurava a nuca de sua esposa. 

Thadi impede a aproximação de Dhalimu pisando na frente do outro. A estatura do leão dourado faz Dhalimu hesitar, Thadi era um bom lutador, sem contar que era um leão grande. Dhalimu não duraria muito com o rei de Anida.

— Como você ousa?! — Alguém grita, a raiva direcionada a Ananda e Dhalimu.

Os olhos de Endra estavam alargados, a respiração dela descompassada enquanto ela tentava compreender o que tinha acabado de ouvir. 

Habi e Hasi se aproximam da mais nova, vendo o pânico se instalar no corpo dela. 

— Endra, está me ouvindo? — Habi pergunta, a voz dela preocupada enquanto ela ergue a pata para tocar o ombro da leoa jubada. 

Ela não responde. 

Um zumbido invadia os ouvidos de Endra. 

A mente da mais nova vagou para os dias em que seus pais começaram a adoecer. Tinha sido tão rápido, tão inesperado. E agora, tudo fazia sentido. 

Envenenamento por Gloriosa Superba.

A resposta estava debaixo do focinho de Endra esse tempo inteiro. 

Um arrepio percorreu a espinha de Endra e ela volta a si, soltando um rugido alto que acaba com a comoção. 

Hasi e Habi dão um passo para trás com o rugido súbito. Endra passa pelos dois, marchando com passos pesados na direção de Ananda. 

— O que pensa que fez, Ananda?! — Ela grita sem se importar com o honrífico outrora carinhoso.

Rahim solta Ananda, que cai no chão com um thud suave.

Ananda rosna, o olhar rosado fixo em suas próprias patas.

A cena era muito familiar para ela. Fadhili a tinha perguntado algo similar anos atrás e a memória deixava um gosto amargo na boca da leoa.

Era como se ela fosse novamente aquela filhote que atacou Mtawala, carregada para a caverna real de Anida por Rahim como castigo a contragosto.

Endra, apesar de ainda ser uma adolescente, parecia uma torre comparada a Ananda. Isso fazia a leoa de pelo alaranjado se sentir pequena e insignificante.

— É verdade, mamãe? — Hasi se aproxima das duas com a testa franzida em uma expressão magoada. Não queria acreditar que a mãe tivesse realizado tal ato.

Dhalimu tenta se aproximar, mas Thadi é mais rápido e pula na frente do outro, novamente o bloqueando.

— Mais um passo — o rei avisa com um rosnado —, e seu destino estará selado.

— Responda! — Hasi grita. — Envenenou meus tios?!

O silêncio perpetua na caverna. Os presentes pareciam segurar as respirações, esperando, desejando que Ananda estivesse blefando.

— E-eu...sim — Ananda diz, erguendo o olhar. — Eu os envenenei. Nem um pingo de remorso passa pelos olhos de Ananda quando ela confessa seu crime.

A caverna explode em xingamentos direcionados a ela e Dhalimu.

Endra rosna, pulando em Ananda e a imobilizando no chão.

— Assassina! — A mais nova grita. 

Ananda abre um sorriso debochado.

— Me matar agora não vai trazer seus queridos pais de volta, pirralha — a leoa provoca. — Ainda sou a rainha de Wishar, não pode fazer nada contra mim!

— Ela não pode, mas o Conselho sim — Waganga se intromete, o rosto enrugado da mais velha virando para Nadia.

— Ananda, seus crimes contra seu cunhado e sua própria irmã são puníveis com a morte — Nadia começa, as palavras da rainha ecoando na caverna. — No entanto, em consideração aos Príncipes Hasi e Chaga, estamos dispostos a ser mais clementes. Você e seu marido estão banidos oficialmente do Conselho até o Príncipe Hasi assumir o trono de Wishar.

Os outros reis murmuram em concordância.

— Decidiremos isso com uma votação. Se alguém além de vocês se opor, poderão permanecer — Nidijo conclui no lugar da mãe. — Caso o contrário, vocês não só estarão banidos do conselho, como também de todos os reinos que o compõe e somente o Príncipe poderá tomar ações relacionadas as reuniões. Rainha Habi e Rei Thadi, de Anida, estão de acordo com o banimento?

Habi põe a pata no ombro de Endra, a afastando de Ananda, que rosna para a sobrinha ao se levantar. 

— Estamos a favor do banimento deles — a voz de Habi sai convicta. — Fadhili e Heshima eram amigos muito queridos e próximos. Endra teve que correr para Anida para nos informar do falecimento deles.

Thadi confirma com a cabeça, ainda impedindo Dhalimu de se aproximar.

Nidijo confirma com a cabeça, o olhar dele passando para os próximos reis — Rei Sahasí e Rainha Anaanda, da Árvore da Vida?

Sahasí e Anaanda trocam breves olhares e a leoa põe a pata sobre a do marido.

— A favor do banimento — o rei de pelagem marrom diz. 

— Rainha Hadassah e Rei Mtawala, de Butsara? — Nidijo pergunta. 

— Banimento — Mtawala diz, lançando um sorriso apoiador para Habi e Endra. — Você tem todo nosso apoio, irmã. Você também, princesa Endra.

Hadassah esfrega a bochecha contra a do marido de forma carinhosa e confirma com a cabeça.

O olhar de Nidijo então se muda para os reis de Dugani. Ele sabia que os últimos meses tinham sido difíceis para os dois, principalmente depois do desaparecimento dos filhotes reais. 

Nidijo hesita. — R-Rainha Ariana e Rei Wiba, de Dugani?

A rainha de pelagem vermelha e olhos verdes pigarreia antes de erguer o olhar. — Estamos...de acordo com o banimento. 

Nidijo só pode lançar um sorriso agradecido antes de prosseguir. — Rei Aeris e Rainha Yasu, do Reino das Rochas? 

Os reis, que trocavam carícias, encaram Nidijo com ligeira irritação por serem interrompidos antes de Aeris se pronunciar.

— A favor — o leão brande. — O que Ananda fez não só foi errado, como também violou as regras dos reinos. Se ela quisesse tanto assumir o trono de Wishar, deveria ter desafiado a irmã.

— Envenenando a irmã e cunhado de forma tão fria — Yasu continua, sua voz era firme, sem dar espaços para brechas ou gaguejos —, Ananda provou que não passa de uma covarde. Seguimos firmes com a decisão de bani-los do Conselho.

— Rei Kiros e Rainha Bianka, das Terras do Norte? — O olhar de Nidijo muda para o leão alaranjado com uma listra na cabeça, sentado mais afastado dos outros com alguns membros de seu orgulho.

— A favor — Kiros responde. Os olhos vermelhos do leão eram como fogo: penetrantes e intimidadores. O desgosto que ele sentia pela situação era palpável. 

Kiros era um leão de poucas palavras e muitas vezes visto como frio. O filho de Kiros, Shaju, não era muito diferente do pai. Tinha a mesma listra na cabeça, um traço comum na família real das Terras do Norte, mas os olhos bicolores e o pelo mais puxado para o ocre, como a pelagem da mãe, sem contar que o mais novo possuía um sorriso arrogante.

Nidijo não gostava deles. Nadia já o tinha avisado que os membros do orgulho das Terras do Norte não prestavam e Nidijo estava começando a ver isso também.

— Rei Mufasa, Rainha Sarabi e Príncipe Scar, das Terras do Reino, também estão de acordo? — Nidijo pergunta, pigarreando e desviando o olhar do pequeno grupo que acompanhava Kiros.

— Sim — Mufasa diz, a testa do leão se franzindo. — Tal ato de covardia não deve ser ignorado.

— Só nos mostra que, se Ananda e Dhalimu fizeram isso com os próprios familiares, poderiam fazer com qualquer um — Scar finalmente se pronuncia, os olhos de esmeralda do leão alaranjado se estreitando. — Quem sabe o que fariam com a Princesa Endra?

— Por fim, mas não menos importante — Nidijo continua, os olhos vermelhos do leão pousando no último casal de reis —, Rei Obasi e Rainha Eshe.

Obasi, que estava deitado ao lado de Eshe, solta um bocejo e ergue a cabeça. A orelha do leão treme ligeiramente antes dele se levantar.

— Estamos a favor — o mais velho diz. 

— Até porque, quem garante que Ananda e Dhalimu não tentem fazer o mesmo com algum filhote, não é mesmo? — Eshe diz, os olhos gentis da leoa brilhando de preocupação. 

O olhar de todos então se voltam para Hasi.

A decisão final estava nas patas dele.


[...]


— Kisai avisou pra nos deixar em paz, Amadi! — Wami exclama, o corpo da filhote estava posicionado protetoramente na frente da irmã, que se encolhia e cobria a cabeça com as patas dianteiras.

— É mesmo? — Amadi debocha, usando a estatura dela para intimidar as gêmeas. — Que engraçado, não estou vendo ele aqui.

Wami e Wazi se encolhem com o tom, não gostando do fato de Amadi usar o gênero incorreto para se referir a Kisai.

Amadi abre a boca, provavelmente para provocá-las ainda mais, mas é bruscamente empurrada para o lado. A filhote rola alguns metros antes de chacoalhar a cabeça e se levantar, rosnando para Hasa, que agora estava na frente das gêmeas.

— Por que não enfrenta alguém do seu tamanho, sua fedelha? — Ele desafia, rosnando e mostrando as garras.

Amadi solta um rosnado baixo, prestes a retrucar, quando os arbustos ao redor deles se movem e Walimu e Kami aparecem, a encarando com olhares de reprovação.

— É tão covarde que teve que trazer sua cavalaria, Hasa? — A filhote de pelagem avermelhada provoca, não se deixando mostrar abalada pela aparição dos outros dois.

— Se tem alguém covarde aqui, é você, Amadi — Kami retruca, a testa da filhote franzindo em irritação e desgosto. — Intimidando filhotes menores que você por pura diversão? Eu esperava isso de Udadisi, não de você.

— Não se meta nisso, sem orgulho, ou sua irmã não vai ser a única a levar uma coça — Amadi sibila ao se virar para sair. — Cedo ou tarde, Habi e Thadi não estenderão mais gentilezas para vocês e sua família e vocês serão forçados a deixar Anida e voltar a seus hábitos nômades.

As palavras duras de Amadi deixa os três filhotes atônitos. A hostilidade de Amadi já era de se esperar, mas eles nunca poderiam imaginar que ela usaria os pronomes errados propositalmente para se referir a Kisai e Hasa.

Ainda assim, Kami é a primeira a se aproximar de Wami e Wazi com um sorriso tenso.

— Vocês estão bem? — A filhote perguntou.

De longe, Udadisi assistia a cena com a testa franzida e o nariz torto. Os olhos do filhote brilhavam com um misto de emoções. 

Que sentimento estranho era esse?


[...]


Hasi engole em seco.

O destino de Wishar estava nas patas dele agora.

O leão engole em seco, fechando os olhos e respirando fundo.

— Eu, Príncipe Hasi, de Wishar — começou, a voz dele soando ligeiramente tensa —, apoio a decisão do Conselho de banir meus pais.

Os leões rugem em uníssono. A satisfação deles era palpável, apesar da tensão.

— No entanto, eu tenho um comunicado — Hasi continua, fazendo a comemoração sessar. — Não posso assumir um trono que foi banhado em sangue antes de ser passado para mim. Não seria correto e meus tios ficariam decepcionados.

— Hasi, o que está fazendo? — Endra questiona.

Hasi lhe lança um sorriso reconfortante e se vira para Nidijo e Nadia com um olhar decidido.

— Eu renuncio ao trono de Wishar! — O príncipe exclama antes de se virar para os pais, os encarando com desgosto. — O trono de Wishar passará para o Princípe Chaga quando o mesmo tiver idade o bastante.

Os olhos de Dhalimu e Ananda brilham com fúria.

Num momento de impulso, Dhalimu passa por Thadi, esbarrando com força no ombro do rei e marchando na direção de Endra com passos rápidos.

Ele não chega muito longe, no entanto. Laken se põe na frente da princesa, silenciosamente desafiando Dhalimu a testá-lo.

— Saia da frente, aberração — Dhalimu sibila. — Ou vai se arrepender.

— Quero vê-lo tentar, desgarrado invasor — Laken retruca, o tom do mais novo baixo e ameaçador. 

Dhalimu se põe em uma posição de ataque, mas não consegue dar o bote. Rahim usa a mesma técnica que usara com Ananda em Dhalimu, impedindo o ataque.

Laken sabia que, mesmo se Dhalimu tentasse atacá-lo, o mais velho não lhe causaria muito dano. Dhalimu podia ser mais experiente em combate, mas Laken era mais novo e rápido. O rei tirânico se cansaria rapidamente.

— Já chega! — Endra exclama, o olhar da princesa passando de Ananda para Dhalimu. 

A expressão dela era indecifrável, mas sua irritação era palpável. 

— Sua pirralha imprestável! — Ananda ruge. — Acha que vai ficar por isso mesmo?! Seus pais teriam vergonha de você!

— Não, eles teriam vergonha de você! — Endra cospe, a voz dela pingando com veneno. Os olhos de Ananda se alargam com o tom da mais nova. — O Conselho está sendo clemente, vocês cometeram traição!

— E eu faria tudo de novo! — A leoa alaranjada grita em um momento de raiva súbita. — A morte de seus pais é culpa sua!

A caverna fica em silêncio e a atmosfera fica fria. Endra fecha os olhos e respira fundo. 

— Não é culpa minha, Ananda, e você não vai mudar a narrativa da história — a mais nova declara, se afastando da tia. 

(Dêem play no vídeo, se der erro podem avisar ^^)


— Sua culpa não encaixa mais em mim, o seu medo não funciona mais em mim — Endra encara Ananda com um olhar determinado. — Eu larguei esse conceito, agora enfim, eu vivo o paraíso.

Os leões ao redor batem suas patas no chão, acompanhando o ritmo da voz da princesa.

— Não adianta me falar que eu 'tô errada — continuou —, eu não vejo o que você vê e nada me faria desistir de ser livre assim!

A voz de Endra carregava todas as emoções não ditas por ela: raiva, remorso, frustração, tristeza. Era um misto difícil de ignorar.

— Por tantas vezes eu me ajoelhei, pensando 'por que eu não posso ser como você?' — Ela canta depois de uma pausa breve. — Mas eu entendo que isso não sou eu.

As leoas harmonizam com Endra, as vozes dela ecoando suavemente pelas rochas da caverna.

— Por tantas vezes eu pedi pra ser normal — a pata de Endra passa pela juba dela, seus dedos dando um leve puxão na pelagem —, mas isso seria tão banal. Eu não quero me encaixar.

Com um olhar determinado, a princesa marcha até Ananda, parando na frente da mais velha.

— Esse medo que tu sente, eu não sinto — brandou, sorrindo determinada —, agora eu sei o que é mesmo o livre arbítrio. Fazer o bem porquê é certo, já que eu vou mesmo pro inferno!

Ananda rosna, mas Endra se afasta antes que a leoa possa tomar alguma atitude drástica. 

— Não adianta me falar que eu 'tô errada — a pata de Endra bate no chão e Nidijo faz um gesto leve com a cabeça, convidando Endra para subir a elevação. — Eu não vejo o que você vê e nada me faria desistir de ser livre assim — Endra sorri agradecida para Nidijo e sobe o amontoado de pedras, parando ao lado de Nadia. — Por tantas vezes eu me ajoelhei, pensando 'por que eu não posso ser como você?' Mas eu entendo que isso não sou eu!

Os machos começam a bater as patas no chão, soltando rugidos guturais e graves.

— Por tantas vezes eu pedi pra ser normal, mas isso seria tão banal. Eu não quero me encaixar — o cântico das leoas fica mais alto e os leões começam a harmonizar com elas. — Ah, ah. Ah, ah. Por tantas vezes eu me ajoelhei, pensando 'por que eu não posso ser como você?', mas eu entendo que isso não sou eu. 

A harmonização das leoas se cessa e elas batem as patas no chão. 

— Por tantas vezes eu pedi pra ser normal, mas isso seria tão banal. Eu não quero me encaixar. Ah, ah. Ah, ah — Nadia põe uma pata reconfortante no ombro de Endra, a voz da mais velha se misturando com a da mais nova enquanto fazem uma harmonização conjunta. — Oh, oh. Oh, oh.

Nadia dá um abraço breve em Endra. Um pequeno sorriso se forma nos lábios da leoa jubada e ela desce da elevação, parando na frente de Ananda novamente.

— Você é uma vergonha para o trono de Wishar, Ananda — Waganga sibila com os olhos estreitados. 

Ananda desvia o olhar e solta um rosnado.

— Não só para Wishar, como para todo e qualquer outro reino — Scar se intromete, dando um passo a frente. 

— O equilíbrio de Wishar foi perturbado com suas ações mesquinhas — Waganga continua —, e a Grande Mkuu vai puni-los grandemente por isso. Guarde minhas palavras, leoa olhos de cinábrio: você vai pagar um grande preço.

As palavras enigmáticas e crípticas de Waganga dão fim à reunião.

Dhalimu e Ananda são cercados pelos outros leões, que se aproximam com passos lentos e carrancas direcionadas a eles. 

Os dois, sem ver outra opção, recuam até a entrada da caverna, soltando rosnados e mostrando os dentes de forma defensiva. 

Isso não detém os outros leões, que continuam marchando para expulsá-los. 

Não demora para uma das leoas pular em Ananda, efetivamente fazendo a leoa alaranjada ser empurrada para fora da caverna junto de seu parceiro.

(Letra ligeiramente alterada. Espero que desfrutem ^^)

— Vergonhas, desgraças — A voz de Nidijo ecoa enquanto ele segue o grupo de leões.

— Humilhações para toda uma raça — Thadi e Hasi continuam.

— Vergonhas — o rei de Rivalon aumenta o tom de voz. 

— Ofensas — Nadia e Habi acrescentam.

— Desgraças — diz Thadi. 

— Atroz! — Endra se pronuncia.

— Vieram trazer a discórdia entre nós — surge a voz grave de Obasi.

— Vergonhas — enfatiza Laken, franzindo o focinho. 

— Ofensas! — Tabia, outra leoa de Rivalon diz, aparecendo sob um rocha, e rosnando.

— Desgraças — Diz Askari bruscamente.

— Atroz! — Complementa Zura, o sentinela. 

— Ninguém mais vai confiar — Eshe estreita os olhos para Ananda e Dhalimu.

— Humilhações para toda uma raça — Hasi complementa. 

As vozes de Eshe e Bianka se harmonizam em uma só. — Vão embora agitadores!

Ananda e Dhalimu se vêem em um corredor de leões, olhando-os de cima a baixo, os seguindo com os olhos e rosnados, enquanto eles se distanciam.

— Nos deixem em paz! Ofensas! — Os leões da multidão se alternam para bradar — Desgraças, atroz!

— Traidores nunca mais! — Bianka bate sua pata contra o chão.

— Vieram trazer a discórdia entre nós — A voz grave de Obasi retorna, ainda mais decidida.

 — Vão embora agitadores! — Repetem Eshe e Bianka.

Os renegados são cercados pelas vozes de todos os leões, que seguem em constante marcha  — Trazem mal, trazem dor — harmonizam em alto e bom som. 

Belladonna, uma das aprendizes de Waganga, pula e tenta alcançar Ananda, que se encolhe.

— Cometeram traição — Kufuata, outro leão de Rivalon, tenta acertar Dhalimu, que recua para perto da parceira. 

— Pro seu lar fugirão — perto das bordas do reino, a multidão os acovarda cada vez mais —, mas não perdoaremos sem retribuição!

— Eles não são um de nós — os leões brandam em conjunto. — E jamais serão um de nós. Nunca foram um de nós, nem serão!

A marcha empurra Ananda e Dhalimu ainda mais para os limites do reino. Os dois sabiam que não poderiam se defender contra um grupo tão grande. — Quem matou um de nós, não mais voltará — continuam. — Pois, agora não há mais ninguém que vá acreditar que são um de nós.

— Pois, não são um de nós — Endra branda, a expressão da leoa mostrando decepção.

— Vergonhas — A mandíbula de Mufasa se cerra.

— Desgraças — Sarabi complementa, ao lado de Mufasa.

— Vergonhas — Scar sacode sua cabeça de um lado para o outro. 

— Desgraças — Kamilla continua, de sobrancelhas cerradas.

— Vergonhas — Hasi balança a cabeça negativamente, desviando o olhar enquanto assiste os pais fugirem.


[...]


As estrelas cobriam os céus de Anida e pintavam a tela escura acima dos animais com pontos brancos e cintilantes.

Udadisi estava inquieto na caverna desde que viu Amadi intimidando Wami e Wazi mais cedo naquele dia. Era estranho.

O filhote nunca se sentiu assim antes.

— Udadisi, pare quieto — Amadi reclama sonolenta, chutando o irmão enquanto se ajeita numa posição mais confortável. — Preciso do meu sono da beleza.

Udadisi grunhe com o chute, soltando um sibilo de dor e se levantando. 

O filhote estala a língua, já irritadiço por não conseguir dormir, e marcha para fora da caverna, se deitando sob as estrelas. 

Ele não costumava questionar as ações de Amadi antes, então o que havia mudado?

— Você está estranho — Udadisi ouve alguém dizer. 

O filhote franze a testa e olha para trás, vendo Akili sentada na entrada da caverna e o encarando.

— Pegou Febre da Girafa? — A filhote pergunta, se aproximando.

— Do...do que está falando? — Ele resmunga em resposta, voltando o olhar para frente.

— Não está mais zombando de nós, ou fazendo piadas de mau gosto — ela responde, se sentando ao lado dele e olhando para o céu estrelado. — Não que eu esteja reclamando, claro, mas o que deu em você?

Udadisi hesita. A cabeça do filhote se vira e ele olha para dentro da caverna, vendo Wami e Wazi deitadas juntas. 

Akili segue o olhar dele e abre um sorriso pequeno.

— Ah, entendi... — murmurou. — Udadisi tem uma quedinha. Mas por quem? Seria a Wami? — ela provocou com um sorrisinho travesso. Quando não viu reação, o sorriso de Akili se alargou — Ou talvez a Wazi?

A cabeça de Udadisi se vira na direção de Akili e ele a encara com a testa franzida.

— E daí que eu tenho uma quedinha por ela? — Bufou o filhote, cruzando as patas sobre o corpo e desviando o olhar com um rubor nas bochechas. 

— É por isso que você está tão quieto esses últimos dias — Akili ri levemente. — Não se preocupe, seu segredo está seguro comigo. 

E com a promessa ecoando nos ouvidos de Udadisi, Akili voltou para a caverna. 


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OLÁ TERRÁQUEOS SAUDAÇÕES )0)

Sua alienígena favorita está de volta. Turu bom com vocês? Espero que sim -w-

Dois capítulos em um mês? Tá certo isso? Seráse Nathy está voltando a ativa???

Só o tempo dirá uwu

Enfim, queria avisar vocês que é bem capaz que eu troque o nome do Utay e do Usawa. Why? Bom, Sawa e Usawa são muito parecidos, obviamente, e Utay e Usawa fica ainda pior porque os dois tem U no começo. 

Então, minha ideia é trocar o nome do Usawa pra Utay e trocar o nome do Utay pra Sawa. Eu vou rever o capítulo que eles aparecem depois pra fazer a troca, vocês vão ver mais pra frente e.e'



Traduções: 

La Reina pidió silencio - A Rainha pediu silêncio


Por hoje é só. Espero que tenham gostado. Um beijo da Nathy, fiquem com Kami e bye -3-

2 comentários:

  1. É O CROSSOVER DE MILHÕES
    Aw o Mufasa querendo chamar ele pelo nome antigo 🥺🤏
    É ELAAAAAA
    Vovó Waganga vai enterrar todos vocês e dançar nas covas, vai vendo
    Alguém precisa segurar a própria língua melhor da próxima vez... Que cretina!
    Tadinha da Endra véi, e ainda avidicou do trono :(
    Heh, eu vi o que fizeste com as Nandinhas, Titi
    Hmm, desaparecimento de filhotes? 👀
    Kiros n presta em nenhum universo
    QUEM É VOCÊ NA FILA DO PÃO PRA FALAR ALGUMA COISA, SCAR??
    Obasi e Eshe né? Me pergunto como eles se encaixam na sua árvore genealógica...
    TRANSFÓBICA DE MERD-
    Ninguém quer reinar em Wishar ahshushsu
    Cara eu amo tanto esse musicais, digno de receber animatic 🥺 (e cover com letra adaptada)
    Hmm Belladonna
    Oh hohoho :3c

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    Respostas
    1. FALA SE EU NÃO MEREÇO UM PRÊMIO PELO CROSSOVER
      Muffy tentando se acostumar a chamar o Takasa de Scar ✊😔
      Waganga: *aponta uma bengalinha de madeira pra todos* Eu vou enterrar todos vocês e dançar nas suas covas >:3
      Se Ananda prestasse pra segurar a língua não teríamos o plot twist de milhões :D
      A Endra é uma prefeita de tão pitica ;^;
      Você não viu nada @-@
      Antes fosse, Eshe só tá com medo pelos filhotes :/
      O dia que o Kiros prestar eu viro santa
      Verás como se encaixam no próximo capítulo uwu
      Tá vendo? É por isso que eu quero matar a Amadi 乁⁠(⁠ ⁠⁰͡⁠ ⁠Ĺ̯⁠ ⁠⁰͡⁠ ⁠)⁠ ⁠ㄏ
      Sobrou pro caçula reinar Wishar ksksksksks
      Amg, se eu soubesse fazer e tivesse paciência, eu faria ✊😔
      Logo mais o cover tá no grupo, confia :D
      Belladonna é um mistério a ser desvendado nos próximos capítulos u-u

      Obrigada pelo comentário, anjinho <3

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