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quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Roar from Within: Contos de Anida [Cap. 6 – O Conselho]

Endra e Laken voltaram para o reino sendo seguido pelas três filhotes. Os leões do reino os encaravam desconfiados mas Endra os ignorou, passando de cabeça erguida por eles e seguindo em direção à caverna. Assim que chegaram a caverna, Endra solta um rugido de chamado, que ganha a atenção dos reis e patrulheiros que estavam na floresta.

— Isso deve servir por enquanto — Endra murmura, sorrindo para Laken que, agora, estava deitado e brincando com as filhotes. 

Não demorou muito para que o grupo de patrulha voltasse com Habi e Thadi na liderança. Endra sorriu ao vê-los e se aproximou.

— Aconteceu alguma coisa, Endra? — Habi a encara preocupada.

— Bem, acontece que eu encontrei nosso forasteiro — a princesa sorri tímida e se vira para mostrar Laken e as filhotes. — Laken e eu nos conhecemos quando ele morava em Wishar. 

O dito leão, que agora se aproximara, faz uma reverência que Endra só pode descrever como exagerada. — Majestades, peço perdão por ter me escondido na floresta e imploro para que poupem a vida desse pobre nômade miserável — Endra o encara em choque. Sabia que Laken era dramático mas não esperava que fosse tanto assim.

Habi pigarreia, ainda surpresa pelo apelo do mais novo. 

— A-Ahm… É-é claro que sua vida será poupada — a leoa dourada, após recuperar a compostura, sorri gentilmente. — Afinal, não fez nenhum mau a nossos filhos, é justo que não façamos mau a você. 

Laken sorri agradecido, finalmente relaxando sua postura. 

— Laken encontrou as filhotes na floresta, perto da fronteira de Dugani. A mãe delas estava morta — Endra suspira.

Habi e Thadi trocam olhares breves. — Alguns tigres disseram ter visto o corpo de uma leoa. Estava totalmente desfigurado, não acham que um leão tenha feito isso — o rei comenta.

— Você e as filhotes são mais que bem-vindos para ficar, Laken — Habi completa.

— Temo que não possa ficar por muito tempo, majestade — o mais novo começa, franzindo levemente a testa. — Apenas alguns dias, no máximo. A mãe das filhotes era conhecida minha e, se puder, gostaria que elas ficassem sob os cuidados de uma das leoas do reino. 

— É claro. Querido, leve o grupo de patrulha para descansar, sim? — A rainha começa, fazendo uma breve pausa enquanto olha para o marido. — Eu cuido da madrinha das filhotes. 

Thadi apenas confirma com a cabeça, se preparando para sair. 

— A-ah, e chame Adanna e Hakuwa, por favor — ela abre um sorriso terno para o parceiro, que retribui e se retira. Assim que Thadi e o grupo de patrulha estão longe, a expressão de Habi, outrora pacífica, fica séria. — Espero que não tenhamos problemas com você aqui, Laken. Estamos todos uma completa pilha de nervos e a notícia de que meus filhos estavam conversando com um forasteiro nos deixou ainda mais nervosos. — Laken engole em seco. Não fazia ideia de que Hakuwa e Adanna eram os príncipes de Anida afinal, o leão nunca se envolvia em política de reinos e os filhotes nunca se incomodaram em falar. — Endra, conto com você para mostrar o reino para Laken, apesar de ter a estranha suspeita de que ele já conhece boa parte daqui. Apenas traga-o de volta. Temos muito a discutir.

Endra sorri e segura a risada ao notar o desconforto de Laken. — É claro, tia Habi. 

Habi relaxa as expressões faciais. — Tenha uma ótima estadia, Laken — e com isso, Habi se afasta, deixando os dois jovens sozinhos.

— Ela te adorou — Endra solta uma risadinha. 

— Você acha? Parecia que ela queria me ver morto e ter minha linda cabecinha empalada na fronteira do reino como aviso — Laken estava incerto sobre o comentário da amiga.

— Confie em mim, ela já o teria matado se não tivesse gostado de você — Endra sorri e Laken engole em seco novamente. — Vamos, vou te apresentar o reino! — Endra exclama entusiasmada. Ela logo nota uma leoa se aproximando deles. — Heh, parece que a madrinha das filhotes foi arranjada.

A leoa sorri ao passar por eles e se aproxima cuidadosamente das filhotes, as cheirando e logo as lambendo. Laken observa a interação com um pequeno sorriso.

— Vamos, elas estão em boas patas — Endra assegura, passando o braço em volta dos ombros de Laken, o abraçando.

Ele solta um suspiro baixo e confirma com a cabeça. Não demora muito para os dois se afastarem da caverna.

Endra é meticulosa ao apresentar o reino para Laken. As patas da princesa gesticulam animadamente enquanto ela falava parando ocasionalmente para soltar um ou outro comentário. 

É claro que, conforme o combinado com Habi, ela o tinha levado de volta para a Rainha, os deixando a sós. 

— Laken, caminhe comigo, sim? — Habi pede, sorrindo educadamente para Laken enquanto o guia pelos arredores da caverna.


[…]


O silêncio entre Habi e Laken era quase ensurdecedor enquanto os dois caminhavam.

O vento soprava uma brisa gentil na juba de Laken, algumas folhas voando sob o queixo dele o fazem erguer a cabeça e seguir as folhas com o olhar.

— Temos nossos receios com forasteiros, Laken — Habi começa, o tom dela baixo, quase calmo até demais. — E, como você sabe, todos os reinos tem suas regras. Regras que servem para manter o equilíbrio e a paz.

Laken confirma com a cabeça. — Sim, eu sei disso, majestade.

— Então espero que entenda que eu não levo ameaças a Anida como uma brincadeira — o tom de Habi é afiado. — Mkuu sabe quanto tempo você passou na floresta, então, estou te dando o benefício da dúvida. 

Habi para de andar e gesticula para os filhos dela, que assistiam a interação dela e Laken alguns metros a frente. 

— Meus filhos me disseram que posso confiar em você — ela diz, os olhos vermelho rubi se estreitando. — Por hora, meu julgamento será adiado. 

— Obrigado, majestade — Laken faz uma reverência. — Sua generosidade não será ignorada.


[...]


Já faziam cinco dias desde que Majira e Vuli partiram para anunciar a chegada dos reis em Rivalon. As duas provaram, em seus treinamentos com Wonaji, terem bastante habilidade e velocidade, então foram promovidas a Mensageiras. Habi, Thadi e Endra estavam se organizando para a viagem, aguardando o retorno das mensageiras. Laken serviria como guarda-costas de Endra, Nyusi acompanharia a Rainha em seu último voo antes da aposentadoria, Kamilla iria como Conselheira Real e Askari como guarda-costas dos reis. A viagem até Rivalon duraria três dias de ida e três de volta, as duas jovens leoas chegariam sãs e salvas em Anida em seis dias. 

Os primeiros raios da manhã iluminavam Anida. Habi foi a primeira a levantar, tendo sido acordada por um Nyusi desesperado a chamando. 

A leoa acordou o parceiro e correu para fora da caverna, vendo, quase imediatamente, uma Vuli completamente machucada e ensanguentada, carregando o corpo inconsciente e igualmente machucado de Majira.

A rainha ruge, acordando todos os leões do reino, e corre para ajudar a adolescente que, agora, praticamente se arrastava com o peso nas costas. — Vuli, o que aconteceu?! — Habi se esforça para colocar Majira em suas costas.

— F-foras-… — Vuli cai no chão, completamente exausta. — Forasteiros, eles… Majira… Ataque…

Kinga não demorou para aparecer atrás de Habi. Com cuidado, a curandeira colocou Vuli em suas costas e encarou Habi com preocupação. — Vamos levá-las para a caverna — foi a única resposta da rainha.

Kinga concorda com a cabeça e as duas, seguidas por Wonaji e Kamilla, vão para a caverna das curandeiras.


[…]


A viagem a Rivalon foi adiada. Majira ainda estava inconsciente e Vuli estava traumatizada demais para contar o que aconteceu com as duas. A adolescente apenas disse que foram atacadas por quatro leões, o resto não passava de um borrão para ela.

Era a madrugada do segundo dia de coma quando Majira começou a acordar. Os eventos da viagem encheram a cabeça da leoa e ela só conseguia gritar, acordando Vuli e algumas curandeiras.

Kinga foi a primeira que parou do lado da mais nova, a consolando.

— Majira, ei- Ei, está tudo bem! — A voz tranquilizadora da leoa acalmou Majira. — Você está em Anida, está a salvo.

— E-eles… Eles… — a mais nova estava hiperventilando e se agarrou a Kinga, abraçando a mais velha e chorando em seu pelo. — F-foi tão horrível!

Kinga, em resposta, abraça a mais nova e começa a cantarolar. — Já passou, não foi culpa sua. — Kinga passa a pata gentilmente pelas costas de Majira, ganhando um soluço estrangulado da mais nova em resposta. Kinga olha de relance para Vuli, que soltava pequenas lágrimas enquanto estava encolhida. Instintivamente, Kinga estendeu o braço livre, chamando Vuli para o abraço. A jovem leoa praticamente voou para os braços de Kinga. — O monstro se foi, ele fugiu. Kinga está aqui — as palavras suaves da leoa começaram a entrar pelos ouvidos das mais novas e elas se acalmaram. — Minhas lindas, lindas, lindas, lindas meninas.


[…]


Algumas horas haviam se passado desde que Majira teve se ataque de pânico e o sol estava subindo. Vuli e Majira passaram a noite consolando uma a outra com a ajuda de Kinga. 

Habi as visitou com frequência conforme o dia se arrastava, tentando tranquilizá-las o máximo possível. A rainha sabia que, seja lá o que tenha acontecido com elas, as traumatizou horrivelmente. 

— O que acha que aconteceu, tia Habi? — Endra se aproxima da mais velha, que estava fora da caverna principal observando o nascer do sol. 

— Sinceramente, Endra, não faço a mínima ideia — Habi suspira, franzindo a testa. — E não sei se quero saber. O trauma é algo que elas carregarão para sempre, não quero colocá-las em ainda mais estresse — Habi olha brevemente para o chão com um olhar pensativo. — Enviei um pássaro para Rivalon para saber se eles tem noção do que pode ser. O pássaro deveria voltar hoje a tarde — outro suspiro. — Não… Não devia tê-las mandado. Devia ter mandado alguém experiente, talvez até um guepardo.

— Não foi culpa sua, tia Habi. Você não sabia que isso iria acontecer — a adolescente coloca a pata no ombro da mais velha e sorri. — Tenho certeza que Majira e Vuli não a culpam por isso. 

Habi não responde, ainda tensa e preocupada com o que aconteceu com as duas adolescentes. Queria perguntar-lhes o que acontecera durante a viagem, se foram atacadas na ida ou na volta, como eram os leões as atacaram e, por mais que a curiosidade estivesse comendo a Rainha por dentro, ela se manteve paciente.


[…]


No dia seguinte, Habi mandou um falcão para avisar que ela e sua caravana estariam em Rivalon em breve. A ave mensageira do dia anterior tinha retornado com a notícia de que não só residentes de Rivalon não sabiam o que tinha acontecido, como também sequer sabiam dos forasteiros. 

A rainha, Thadi, Kamilla, Kinga, Askari, Endra e Laken estavam se preparando para a viagem até Rivalon. A jovem princesa estava deveras ansiosa, não visitava Rivalon desde que era filhote. 

Apesar da ansiedade percorrer suas veias, Endra manteve a compostura – assim como sua mãe havia lhe ensinado –, enquanto saía da caverna.

“Uma princesa sabe controlar suas emoções, Endra” era o que sua mãe havia dito. E Endra sabia que ela estava certa, Fadhili sempre sabia de tudo. E a princesa sentia falta dela.

O coração da leoa jubada se aperta ao lembrar dos pais. A mente dela não conseguia registrar como eles tinham morrido e, se fosse bem sincera, Endra acreditava que seus tios tivessem envolvimento nisso.

— Endra? — Vem a voz de Wonaji, a tirando de seus devaneios. A leoa mais velha tinha se oferecido para mentorear Endra e a mais nova aceitou de bom grado. — Está na hora, querida. Está pronta?

Endra confirma com a cabeça, virando o rosto para encarar a leoa de pelo claro, notando a bolsa de pele de cobra e cipó que a leoa carregava no ombro. — Sim, desculpe. Faz tempo que não visito Rivalon, estou ansiosa.

Wonaji abre um sorriso terno para a mais nova. 

— Tenho certeza que a Rainha Nadia vai adorar revê-la — Wonaji passa um braço em volta dos ombros de Endra, a abraçando de forma reconfortante. — E quem sabe você não se dá bem com os adolescentes de lá, hm? Ouvi dizer que os jovens de Rivalon são encantadores.

Endra solta uma risada nervosa, que Wonaji atribui ao nervosismo da viagem. Apesar de saber que Wonaji não a julgaria por suas escolhas e preferências, Endra ainda não se sentia confortável compartilhando com a mais velha sobre sua sexualidade.

As duas descem pelo amontoado de pedras que servem como escadas para a caverna real, diminuindo o passo quando veem Habi e Thadi próximos ao limite do reino, se despedindo de Adanna e Hakuwa, assim como de outros membros do reino.

— Quem vai ficar no comando do reino enquanto estivermos fora? — Endra indaga com a sobrancelha arqueada. A juba da leoa balançava ligeiramente com a brisa, lhe dando um ar mais etéreo.

— Kweli e eu — Wonaji responde. — E Thadi vai voltar mais cedo também. Habi ainda não escolheu definitivamente quem vai ser o conselheiro real dela, Kamilla vai apenas como cortesia, mas ao que tudo indica, é provável que seja uma das fêmeas.

Endra confirma com a cabeça com a explicação, seguindo Wonaji para a fronteira do reino, onde os outros já aguardavam.

— Todos prontos? — Vem a voz de Habi, que sorri com a chegada de Wonaji e Endra.

Os outros leões confirmam e Habi respira fundo, ganhando uma lambida afetiva de Thadi na bochecha. O rei, apesar de não ser muito falador, deixava claro que amava sua esposa com pequenos gestos de carinho.

— Cuidaremos de tudo enquanto vocês estão fora, tia Habi — Kweli se aproxima, esfregando a cabeça carinhosamente contra a bochecha de Habi. — O reino está em boas patas. Kirafiki vai ajudar a manter todos na linha.

Ao ser mencionada, Kirafiki dá um aceno firme com a cabeça, que Habi retribui com um aceno simples. 

— Tomem cuidado — Wonaji diz, se aproximando de Kinga e abraçando a amiga, o rosto da leoa se erguendo para dar um olhar significativo para Askari, que concorda brevemente com a cabeça. 

Hakuwa e Adanna abrem sorrisos tristes, ambos lado a lado dos pais. Os pequenos sabiam que Habi e Thadi voltariam logo, mas já estavam com saudades.

— Vamos sentir saudades — Adanna murmura, as patinhas dela se envolvendo ao redor da pata de Thadi. Ela olha para cima com carinho, encarando os olhos verde água do pai. — Boa viagem.

Thadi abre um sorriso pequeno antes de envolver a pata dianteira livre ao redor dos ombros de Adanna. — Voltaremos em breve, prometo.

Um pouco mais afastados estavam Kinga e Elimu. O filhote abraçava a pata da mãe com força.

— E-eu quero ir com vocês, mamãe — o pequeno resmunga, seus olhinhos brilhando com lágrimas não derramadas. 

— Eu sei, meu amor, e sinto muito por não poder te levar — Kinga tenta reconfortar o filho. — A viagem vai ser cansativa, meu príncipe. Não podemos arriscar com sua saúde. 

O filhote confirma com a cabeça antes de se esfregar contra a pata da mãe e se juntar a Hakuwa e Adanna.

Os filhotes de Kamilla, por outro lado, não tinham sido vistos, trazendo uma expressão tristonha para o rosto da leoa.


[...]


A viagem para Rivalon tinha sido exaustiva mas gratificante. 

Os primeiros raios de sol do último dia de viagem acariciam os pelos dos viajantes quando eles terminam de atravessar a ponte de pedra que faz ligação com Rivalon.

Habi abre um sorriso cansado e Nyusi, que descansava no ombro da rainha, alça voo na direção da caverna real. 

O grupo para na fronteira, alguns passos depois da ponte, e esperam. 

Não demora muito para uma leoa com a pelagem clara e marcas marrons nas patas se aproximar, seguida de um leão de juba cobre e pelo puxado para o dourado com manchas pretas nas patas dianteiras e traseiras.

Os olhos roxos da leoa carregavam sabedoria e gentileza, um sorriso sereno agraciava suas feições. O leão atrás dela, apesar de mais novo, era mais sério, mas tinha um sorriso convidativo.

— Habi — a leoa faz uma reverência breve. — Você está tão linda, querida.

— Rainha Nadia — Habi retribui a reverência e Nadia leva as patas aos ombros da leoa mais nova, segurando-os gentilmente antes de puxar Habi para um abraço apertado, que Habi retribui de bom grado.

— Os outros já estão pra chegar — Nadia anuncia, separando o abraço e sorrindo para os outros membros do grupo. — Por favor, sintam-se em casa. Nidijo, querido, poderia...

Antes de Nadia terminar a frase, o focinho de Nidijo se contorce em um rugido, anunciando a chegada do grupo de Anida.

— Rainha Nadia, é um prazer revê-la — Kamilla se aproxima, mostrando um sorriso que não alcança os olhos de Nadia.

Nadia lança um sorriso educado na direção da leoa mas não diz nada. A rainha, por mais educada e gentil que fosse, podia sentir o cheiro de bajulação a uma milha de distância.

Sem contar que Nadia, por algum motivo, sentia grande apatia por Kamilla. A leoa cheirava a encrenca e Nadia não gostava nem um pouco dela.

— Trouxemos...alguém especial conosco também — Habi dá espaço, deixando Nadia ver Endra, que abre um pequeno sorriso.

— Olá, tia Nadia — a mais nova cumprimenta com um sorriso tímido.

Os olhos de Nadia brilham antes de ela soltar um gritinho animado e correr para abraçar Endra.

— Minha nossa, como você está crescida! — Nadia exclama, se afastando para admirar Endra. — E sua juba, tão estilosa. Ah, minha querida, você está tão deslumbrante!

Endra solta uma risadinha, as bochechas da leoa se enrubescem com os comentários da mais velha.

— Você me lisonjeia, tia Nadia — Endra ri levemente. — Ah, onde estão nossos modos? Tia Nadia, Nidijo esses são Kinga, Askari e Laken. Tio Thadi, tia Habi e Kamilla vocês já conhecem.

— É um prazer conhecê-los — Nidijo sorri. — Por favor, sigam-nos. A reunião será ao entardecer.

Nidijo e Nadia guiam o grupo reino a dentro. 

Alguns reis e rainhas já estavam chegando de viagem. Os tios de Endra não estavam entre eles até o momento.

O dia se arrastou lentamente, com Nidijo e Nadia correndo de ponta a ponta de Anida para cumprimentar os recém chegados.

Já na caverna, quando o sol começou a se pôr e trazer o céu alaranjado, os leões se reuniram. 

Nidijo pigarreia antes de soltar um rugido alto, chamando a atenção de todos para ele e Nadia, que estavam em uma elevação rochosa.

— Obrigada, Nidijo — a mais velha sorri agradecida para o filho antes de voltar a atenção dela para os outros. — Gostaria de saudar a todos os que puderam comparecer. 

Endra olha em volta, os olhos dela pousando em um pequeno grupo de leões, uma delas tinha algo vermelho no pescoço e era estupidamente grande para uma leoa que parecia tão nova. 

A princesa jubada estava sentada ao lado de Thadi e Habi, e pinturas simples feitas com tinta lilás adornavam seu rosto. 

Ela não podia ver os tios na multidão e, se fosse sincera, Endra não queria vê-los. 

— Temos notícias...pouco satisfatórias, para dizer o mínimo — Nadia continua, a voz dela carregando um tom de preocupação. — Rainha Habi?

Ao ser chamada, Habi se levanta e caminha até o centro da caverna, se sentando na frente da elevação de Nadia e Nidijo.

— Saudações a todos — Habi faz uma breve reverência. — Como sabem, as notícias por Anida correm soltas e, alguns dias atrás, a Princesa Endra, de Wishar, filha da finada Rainha Fadhili e do finado Rei Heshima, chegou em nosso reino. 

Os curiosos olhos dos leões se voltam para Endra, que mantém o queixo erguido apesar do turbilhão de emoções em seu rosto.

— Fadhili e Heshima morreram?! — Uma leoa, de pelo claro e manchas marrom escuro pelo corpo e rosto, exclama com indignação. 

— Rainha Hadassah — Endra cumprimenta a leoa com uma reverência, se aproximando do centro da caverna e parando ao lado de Habi. — Sim, meus pais...meus pais estão mortos.

Um burburinho começa, sussurros indignados circulando pela caverna. 

— Silêncio, silêncio! — Nadia exclama, o burburinho cessando imediatamente. O olhar simpatético da mais velha encontra o de Endra. — Prossiga, querida.

— Ao invés de seguirem a tradição e me permitir ascender ao trono, meus tios me exilaram — Endra explica, a voz da mais nova falhando. — Querem que meu primo Hasi seja coroado ao invés de mim. E...eu tenho motivos para acreditar que eles estejam por trás da morte dos meus pais.

Mais sussurros começam e as orelhas de Endra se achatam contra a cabeça dela.

— Como vocês sabem — a princesa continua depois de pigarrear —, Wishar é um reino conhecido por suas plantas e ervas medicinais — a expressão de Endra fica séria. — Uma das plantas mais comuns de lá é a Gloriosa Superba, altamente venenosa tanto ao tocar quanto ao ingerir. 

Os leões ficam atônitos com a revelação. 

— Isso é uma acusação muito séria, sobrinha querida — uma voz feminina diz da entrada da caverna. Os olhos de todos se voltam para Ananda, que estava sendo seguida para dentro por Dhalimu e mais dois leões, um de pelagem escura e um de pelagem mais clara. — Por que não compartilha o que aconteceu no dia de seu exílio?


[...]


Em Anida, a tensão entre Hakuwa, Adanna, Amadi e Udadisi era alta. 

Amadi, nesses poucos dias, tinha conseguido irritar os príncipes e os outros moradores de Anida com facilidade. Sem a presença constante de Kamilla, Amadi e Udadisi não precisavam se mostrar como os filhos perfeitos.

— Ora, Hakuwa, por que tão irritadinho? — Amadi provoca, um sorriso convencido no rosto dela enquanto ela ri ao encarar um Hakuwa encharcado e carrancudo saindo do lago. — Foi apenas um sustinho. Não acredito que caiu nessa.

Hakuwa a encara com uma expressão irritada, mas não diz nada, chacoalhando o corpo e propositalmente jogando água em Amadi.

Tinha sido um dia bom para o pequeno príncipe até Amadi e Udadisi começarem as provocações, deixando Kiny no escuro sobre as travessuras que os irmãos aprontavam. Para o filhote mais novo, os irmãos eram tão santos quanto Mkuu.

— Por Mkuu, Hakuwa, o que aconteceu?! — Kweli pergunta ao se aproximar, a expressão dela preocupada. 

Para o infortúnio de Hakuwa, a prima não o tinha testemunhado ser assustado por Amadi enquanto tomava água e cair na água.

— Eu vim perguntar para ele quando ele estaria livre para brincar — Amadi se pronuncia, a expressão dela se transformando em uma de falsa simpatia. — Mas Hakuwa se assustou e caiu no lago. Sinto muito, Kweli.

Kweli franze a testa, puxando Hakuwa contra a pata dela. — Está tudo bem, Amadi. Tenho certeza que foi sem querer — a mais velha pega Hakuwa pelo couro do pescoço e o leva para a caverna, sentindo o corpo de Hakuwa tremer com o vento gelado.

Assim que chegam na caverna, Kweli põe o primo no chão, ao lado de Kumi. 

— Haku? — Kumi inclina a cabeça em confusão. 

— Okay, o que aconteceu? — Kweli pergunta, se deitando puxando Hakuwa para o meio de suas patas, usando a língua para secar o filhote com o máximo de suas habilidades.

Hakuwa solta um suspiro derrotado. A testa do filhote estava franzida em uma carranca. 

— Qual é o problema da Amadi? — Ele resmunga. — Somos todos legais com ela e os irmãos, sempre tentamos incluir Udadisi, Kiny e ela, mas na maioria das vezes, somente Kiny se junta nas brincadeiras.

Kweli solta um "mhm" enquanto ouve os resmungos do pequeno, o esperando continuar. 

— Ela chegou de mansinho e gritou — Hakuwa explica. — Eu me assustei e caí no lago. 

— Vai ver ela gosta de você — Kumi solta, rindo com a própria piada.

— Não é assim que se demonstra gostar de alguém, Kumi — Kweli retruca, rindo levemente. — Você só vai afastar quem você gosta desse jeito.

Kumi franze a testa.

— E como se demonstra então? — Pergunta confuso.

Kweli para de lamber a bochecha de Hakuwa por um momento. O rosto da leoa toma uma expressão pensativa.

— Bem, se você conhece bem a pessoa que você gosta, como o tio Thadi e a tia Habi, você percebe pelos olhos — Kweli explica. — Os olhos são as janelas da alma. Prestem bastante atenção ao tio Thadi e a tia Habi quando eles estão olhando um para o outro. Vocês vão ver, o jeito que eles se encaram é...de puro amor e adoração.

— Mas e quando você não conhece bem a pessoa? — Hakuwa se intromete. — Quando vocês acabaram de se conhecer e, eu não sei, você sente atração primeiro? Ou quando você está gostando da pessoa ou a pessoa está gostando de você?

— Está perguntando por causa da Akili? — Kumi provoca, suas sobrancelhas se erguendo sugestivamente.

Hakuwa cora. — O-o que?! É claro que não! — Protestou. — Foi só uma pergunta!

Kweli ri com a provocação.

— Bem, é fácil saber quando você está gostando de alguém — Kweli deixa Hakuwa sair do meio das patas dela e se deita em uma posição mais confortável. — Você...fica mais distraído, mais aéreo. Suas pupilas dilatam, você suspira para o nada e seu olhar simplesmente...amolece. É difícil de explicar.

— Pff, não se você presta atenção aos que estão ao seu redor — Kumi resmunga enquanto revira os olhos. 

— Ei, o que isso quer dizer!? — Hakuwa exclama indignado, ganhando uma risada de Kweli e Kumi.


[...]


A tensão na caverna era alta com as palavras acusatórias de Ananda. 

— O que aconteceu com Chaga naquele dia não foi culpa minha — Endra estreita os olhos. 

— E ainda assim, ele quase perdeu a vida — Dhalimu retruca, a voz dele saindo em um rosnado.

— Não vamos nos exaltar — o leão de pelagem mais clara se pronuncia, se aproximando e se pondo diante de Endra, se virando para encarar Ananda e Dhalimu. — Papai, o exílio de Endra foi errôneo e todos sabem disso. Chaga não deveria tê-la seguido para o exílio e vocês deveriam estar de olho nele.

— Hasi, seu isolente! —  Ananda grita, a pata dela erguida e prestes a acertá-lo. 

Os outros leões se levantam de suas posições sentadas para intervir, mas Nadia é a primeira a pular de sua elevação e se pôr entre o Hasi e Ananda. Os olhos da mais velha brilhavam com desafio, esperando que Ananda ousasse tocá-la na frente dos outros.

Ananda hesita, a testa dela franzindo enquanto encara a rainha diante dela, abaixando a pata.

— Estão aqui como convidados, Ananda — Nadia põe ênfase na frase, dando passos para trás antes de voltar para a elevação e se sentar novamente ao lado do filho. — Erga sua pata novamente e nenhum de nós será clemente. Façamos uma pausa por enquanto — ela continua. — Todos fizeram uma longa viagem até aqui. Voltaremos quando as estrelas começarem a aparecer.


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OLÁ TERRÁQUEOS SAUDAÇÕES )0)

Sua alienígena favorita está de volta. Turu bom com vocês? Espero que sim -w-

Oof, quase dois anos sem postar, né e.e'

Perdão. Errei, fui moleca ✊😔

ENFIM, capítulo editado. Capítulo longo. Capítulo com suspense. Me. Idolatrem.

Bom, esse capítulo ~assim como muitos outros, mas a gente releva~ era pra ser postado em 2022. Mas a vida aconteceu e tudo ficou corrido pra mim.

ANYWAYS... Se vocês virem um Habibs perdido por aí...não, vocês não viram.

Por hoje é só. Espero que tenham gostado. Um beijo da Nathy, fiquem com Kami e bye -3-

6 comentários:

  1. olá, Bom ver uma carinha antiga por aqui novamente!
    gostei do capítulo, apesar de não me lembrar muito do contexto da história, afinal foram 2 anos (quase 3?) :p kkkkkkkkkk
    Algo me diz que o grupo de forasteiros ainda vai dar muito o que falar
    Me pergunto o que a Kamilla ainda vai Aprontar, e quanto à Ananda? tem coisa aí...
    muito fofo o diálogo de Hakuwa kakaka, bixinho aprendendo as manhas da vida

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    1. MDS VC TÁ VIVA )0)
      menina, nem eu lembrava direito. Eu sabia que tinha um rascunho salvo e oq eu tinha escrito até então, mas de resto? kkkkkk
      Amiga, nem te conto e.e'
      Enfim, Kamilla, né. Aprontando altas Kamillices enquanto a Ananda...é um caso complicated
      eu fico com dó do Hakuwa as vezes, ele é ingênuo demais as vezes...

      Obrigada pelo comentário, flor! Assim que possível, eu vou me atualizar na sua fic tmb <3

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  2. Anida virou creche agora 😂
    Bando de marmanjo atacando as moças, espero que não tenha acontecido nada... Você sabe ;-;
    "O monstro se foi, ele fugiu. Kinga está aqui" MANO A MÚSICA AAAAH
    É trauma atrás de trauma, não é possível
    AI MEU DEUS CHEGOU A PUTA CRETINA MACHISTA HOMOFÓBICA FEDORENTA - eu posso avançar nela?? Posso? Só quero ver se a cabeça dela faz poc se bater numa pedra 🥺🤏
    Oti modeuso, temos uma flor desabrochando na savana :3c

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    1. Virou creche e eu querendo matar personagem... ENFIM
      só o tempo vai dizer pq eu me recuso a comentar mais sobre ✊😔
      A KINGA É MUITO MÃEZONA VÉI
      se não tem trauma, não é fic minha u-u
      Calma, calma. Ananda vai ter oq merece, prometo >:3
      Flores nascem nos lugares mais inusitados, né? kkkk

      Obrigado por comentar, anjinho! <3

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  3. Laken: Hora de encontrar no modo ator de Hollywood!
    Aahh eu não achei a Adanna em "Sobre os Personagens", queria ver a aparência dela ;-;
    Gostei da preparação para viajar de um reino para outro :3
    Kinga mamãe <3
    Poxa, mas eu demonstro gostar de alguém a assustando a pessoa ._.
    TRETA TRETA TRETA

    ~aguardando ☕︎

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    1. Laken é um dramático. Certeza que numa outra vida, ele foi uma diva
      A Adanna é a Tama. Tem ela brincando com o Thadi e o Hakuwa no primeiro ou segundo capítulo e.e'
      A Kinga é tão pitica ;u;
      Ah, no caso da Amadi, ela só não gosta do Hakuwa mesmo ksksksksksks

      Obrigadinha pelo comentário, amore <3

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